Colarinhos e gravatas
Por Osvaldo BertolinoPor trem ou navio, a bola transpassava fronteiras e tornava o mundo mais redondo. No Brasil, ela chegou acompanhada dos modos britânicos. O uniforme, o equipamento e o vocabulário eram importados da Inglaterra. Ser jogador de futebol era chique. O jornalista Mário Filho, um dos pioneiros da nossa literatura futebolística, descreveu em seu livro O Negro no futebol brasileiro, de 1947, como moças maquiadas, bem penteadas e elegantes em seus grandes chapéus emplumados, postavam-se nas arquibancadas para assistir a um jogo torcendo seus lencinhos em mãos delicadas.
No campo, estavam irmãos, primos e namorados, enfeitados com toucas de tricô e faixas de cetim. “O futebol prolongava aquele momento delicioso de depois da missa”, escreveu Mário Filho. No Rio de Janeiro, Oscar Cox, que conhecera o futebol durante seus estudos no Collège de La Ville em Lausane, Suíça, fundou, em 1902, o Fluminense Football Club. O exemplo foi seguido também em São Paulo, onde surgiram estádios no Velódromo, na Chácara Dulley e no Parque Antártica.
Mário Filho diz que os jogadores, ao entrarem em campo, saudavam as moças na arquibancada, mas não repetiam seu hip-hip-hurrah “diante da geral, onde se amontoavam os torcedores sem colarinho e gravata”. Mas eram torcedores tão encantados pelo futebol quanto aqueles que dispunham de colarinhos, gravatas e posses. E começaram a formar suas próprias equipes.