Semente da popularidade
Por Osvaldo BertolinoThomaz Mazzoni, um dos pioneiros do jornalismo esportivo brasileiro, diz em seu livro História do futebol no Brasil, de 1950, que “a semente da popularidade futebolística brotou logo prodigiosamente”. “O exemplo dos estudantes e dos moços ricos do Makenzie, Paulistano etc. não deixou indiferentes os rapazes operários dos bairros, e daí surgirem pequenos clubes em pouco tempo. Assim, se consultarmos, por exemplo, os jornais de 1903, leremos em duas ou três linhas que ‘estão combinados para hoje alguns matches de futball’ no ponto final do Tramway da Cantareira, entre os clubes A. A. Cruzeiro Paulista x A. A. Santos Dumont e S. C. Sílvio de Almeida x S. C. Guarani”, escreveu.
Ele cita o exemplo de Campinas, um dos pólos da economia cafeeira do interior do Estado de São Paulo, onde o futebol chegou em 1897 pelos pés de estudantes do Colégio Culto à Ciência e encontrou abrigo no bairro da Ponte Preta. Ali, os rapazes limparam uma área de terreno junto aos trilhos da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, levantaram traves feitas de bambu e passaram a jogar. “Com o passar do tempo, outros rapazes, moradores do mesmo bairro, dos bairros vizinhos e mesmo da cidade, vieram juntar-se aos primeiros e o aglomerado de adeptos do esporte bretão foi pouco a pouco aumentando, e esse desenvolvimento a todos entusiasmou. Foi quando resolveram constituir-se em associação”, escreve Mazzoni. Nascia assim, em agosto de 1900, a Associação Atlética Ponte Preta.
Um exemplo de influência da popularidade do futebol na expansão desse esporte no Brasil ocorreu no Estado do Rio Grande do Sul. O antropólogo Arlei Sander Damo diz que um clube formado na cidade portuária de Rio Grande, o Sport Club Rio Grande, aproveitou-se das conexões marítimas e principalmente ferroviárias da cidade com o Estado para se tornar uma espécie de semeador de bolas. “A ‘cosmopolita’ Pelotas, integrada ao circuito internacional das turnês culturais, foi pioneira na incorporação dos negros ao futebol de ponta — através do E. C. Brasil, primeiro campeão gaúcho — e é, ainda hoje, uma das poucas cidades do interior do Brasil onde os torcedores dividem sua predileção clubística entre os clubes locais, sem maiores considerações pelos da capital”, diz ele.