Credenciais do futebol-arte
Por Osvaldo BertolinoO historiador Nicolau Sevcenko descreveu o corrido como a “descoberta de uma vocação” pelo povo brasileiro. O jornal O Estado de S. Paulo disse que “os jogadores brasileiros evidenciaram possuir as melhores qualidades que se podem desejar em ‘footballers’, qualidade que somente ele, nenhum outro povo, reúnem todas”. Para o jornalista Américo R. Netto, surgiu ali a “escola brasileira de futebol”.
O Brasil passou a ter aquela identidade nacional descrita por Eric Hobsbawn, que faz com que uma comunidade imaginária pareça “mais real na forma de um time de onze pessoas com nome”. “O indivíduo, mesmo aquele que apenas torce, torna-se o próprio símbolo de sua nação”, escreveu. A nascente paixão nacional ganhou impulso nos anos 1930, quando futebol passou a representar uma espécie de unidade simbólica poderosa. Nos anos seguintes, o Santos de Pelé e o Botafogo de Garrincha apresentaram ao mundo as credenciais da verdadeira arte futebolística brasileira.
A conquista da Copa de 1958 selou definitivamente o encontro do futebol brasileiro com a arte. E em poucas sociedades uma competição esportiva específica assumiu as dimensões que a Copa do Mundo assumiu no Brasil. Com esse potencial, o futebol brasileiro chegou aos dias atuais como um exportador de jogadores, oferecendo mercadoria relativamente barata para os clubes europeus. A “mundialização” do futebol é um fenômeno ainda por ser estudado. Mas já é possível dizer que ele tem prejudicado enormemente o futebol-arte, genuinamente brasileiro.