Cofres dos clubes
Por Osvaldo BertolinoCunhou-se no país a máxima de que por trás de um clube bobo há sempre um dirigente esperto. A sentença decorre da constatação de que a oitava maior economia do mundo deveria ter o oitavo maior mercado de futebol do planeta. Não poderíamos ter clubes menos ricos e menos poderosos e, portanto, perder jogadores, para o futebol do Japão, da Alemanha, da França, da Itália e da Inglaterra. Teríamos paridade com os mercados da Rússia e da Espanha. Ou seja: tanto poderia o Santos vender alguns jogadores para o Real Madrid quanto comprar alguns do Milan, por exemplo. Nenhum outro lugar do mundo, a seguir por essa lógica, poderia tirar jogadores de primeira linha do Brasil.
Uma possível explicação para essa distorção é que a fatia do bolo dos investimentos em marketing que vai para o futebol no Brasil não chega aos cofres dos clubes. Sem falar na venda de atletas. Os negócios do futebol, permeados por um emaranhado de “empresários” obscuros, são caixas pretas, poços sem fundo. É uma realidade difícil de entender. E mais ainda de aceitar. Não que a situação seja melhor em outros locais.
Chelsea, Milan e Inter, por exemplo, estão quebrados, diz estudo recentemente divulgado. O Arsenal é a entidade mais endividada. O futebol de Itália e Espanha está atravessando atualmente uma delicada situação econômica. No caso do futebol espanhol, fora Barcelona e Real Madrid, nenhum outro clube do país está entre os 30 maiores da Europa. Na Itália, os principais clubes não dispõem de um estádio próprio que possa servir como motor econômico para melhorar seus balanços.
Muitos clubes estão nas mãos de empresários. Um caso que exemplifica bem como o futebol deixou de ser apenas arte é dos empresários americanos Tom Hicks e George Gillet, proprietários do Liverpool, que anunciaram que o tradicional clube inglês está à venda. O clube, que tem dívidas no valor de US$ 364 milhões (aproximadamente R$ 637 milhões) informou, por meio de nota publicada em seu site, que a operação conta com "o apoio completo de seus agentes financeiros". Desde que Hicks e Gillet passaram a controlar o Liverpool, em 2005, a equipe conquistou apenas um título — a Supercopa da Inglaterra, em 2006.