Disciplina - Sociologia

O uso do dia 20 de Novembro para o ensino de Sociologia

Autor: Julio Cesar Lourenço
Coautor: Renata Oliveira dos Santos
E-mail: jcl_okcomputer@hotmail.com
Instituição / Escola: Theobaldo M. Santos
Município / Estado: Maringá / Paraná
Fonte do arquivo: Psicopedagogia On-line
Série: 1°, 2°, 3° do Ensino Médio

O uso do dia 20 de Novembro para o Ensino de Sociologia


Introdução


O presente relato tem como objetivo apresentar o projeto "O Dia da Consciência Negra", realizado no Colégio Anjos Custódios, em Marialva/PR, no ano de 2007. O intuito aqui é apresentar, a partir desta experiência, aos mais diversos educadores, modos de como articular temas, objetos, autores, teorias, para a inserção da disciplina de Sociologia e seus conceitos no Ensino Médio e Fundamental.

O uso do dia 20 de Novembro como um meio de trabalhar em sala de aula variados temas sobre a História da África, cultura e a história dos afrodescendentes no Brasil, surgiu como uma proposta de produzir um trabalho interdisciplinar entre as diversas áreas de conhecimento, dentro da instituição de ensino.

Utilizando esta data comemorativa como uma época diferenciada dentro do calendário escolar, objetivou-se a partir de diversas atividades com os alunos e professores, tais como pesquisa histórica, fotos, vídeos, palestras, confecções de cartazes ou painéis, contextualizar a questão do negro no Brasil: os preconceitos, as dificuldades, as representações equivocadas, o esquecimento de sua história, a cooptação de suas reivindicações, suas lutas e vitórias.
Durante todo o desenvolvimento desse trabalho foram feitas inúmeras abordagens sobre a história e a cultura afro-brasileira, a começar pela contextualização e importância do dia 20 de Novembro, as dificuldades sofridas diariamente pelos afrodescendentes no país, assim como as vitórias conquistadas por eles, que se destacaram em suas lutas seja no esporte, na educação, na mídia, na política e na literatura.

Em contraposição, as discriminações e visões equivocadas que persistem em nossa sociedade pensar a realidade é compreender que a diversidade é própria das relações sociais, uma das marcas mais características da vida em grupo. Por isto o reconhecimento errôneo pode trazer reais danos, uma vez que provoca um efeito de inferioridade sobre o outro. O pluralismo das culturas em uma sociedade global, não confere prejuízos a esta, pelo contrário, contribui para o desenvolvimento da mesma. O preconceito deve ser combatido radicalmente, tendo como norte superá-lo. O devido reconhecimento não é uma mera cortesia. É uma necessidade humana vital. Não reconhecer alguém como igual é uma forma de reprimir este alguém.
Dessa forma, ao se propor um projeto como esse em âmbito escolar é fundamental tanto para aprofundar, assim como para complementar as visões sobre a questão do negro no Brasil, a partir do cotidiano de educandos e educadores, quanto para a compreensão de diversos fatos sociais presentes em nosso cotidiano, além da possibilidade de este tema trazer um significativo aprofundamento na teoria sociológica.

Com isso, fica claro o papel da Sociologia como disciplina no Ensino Médio, aquela que será responsável não apenas por uma formação cidadã do educando, de uma formação de senso crítico apurado capaz de interpretar fenômenos sociais que estão intimamente relacionados à sua vida particular – ou mesmo relacionados a toda uma sociedade –, mas também por uma formação consciente e crítica, embasadas na teoria e na prática, do “treinamento” do olhar que possibilita o ato de construir o seu saber pensar e saber questionar.


1. O projeto: apresentação pedagógica


A partir de 2003 foi aprovada pelo congresso nacional a Lei n. 10.639, chamada Lei Ben-Hur, com o objetivo de que a história dos africanos e de seus descendentes no Brasil fosse ensinada nas escolas públicas ou privadas. O objetivo dessa lei é dar a visibilidade, e contar de forma justa, a história afro-brasileira, dando espaço de direito a participação dos negros na construção da sociedade e identidade nacional. Essa lei foi promulgada tendo em vista a necessidade histórica de que os negros sejam vistos além da posição de “escravo” que os alunos estão acostumados a aprender. Por isso, há o imperativo de uma metodologia pedagógica bem formada e concreta sobre esse assunto.

O projeto “O Dia da Consciência Negra” teve sua primeira apresentação realizada no dia 30 de Julho de 2007, durante a reunião de planejamento pedagógico, com o intuito de definir as ações dos professores para o segundo semestre de aulas no Colégio Anjos Custódios. Nessa reunião estavam presentes grande parte dos professores. Cada um recebeu uma cópia do projeto e pôde ler naquele momento ou em casa qual era o seu objetivo e como trabalhar a temática em cada disciplina. O projeto foi bem aceito, possibilitou discussões e novas ideias.

Como primeiro recurso pedagógico para por em prática a Lei n. 10.639 no Colégio Anjos Custódios, foi proposto que durante todo o dia 20 de Novembro de 2007 fosse realizadas atividades que pudessem despertar nos alunos a curiosidade para o conhecimento da História e da cultura afro-brasileira, assim como a desconstrução de tratamentos pejorativos que poderiam envolver “raça”, cor ou diferenças étnicas.

O preconceito e o racismo estão historicamente veiculados a situações de exploração, nas quais os mais fortes, política e economicamente, extraem vantagens sociais e materiais. No Brasil, persiste ainda o “preconceito velado”, aquele no qual não se assume como racista, tem-se atitudes racistas. O negro na sociedade brasileira tem uma trajetória de intensa segregação e marginalização. Ao promover todo um discurso equivocado e ofensivo quanto a esse grupo, surgiram classificações equivocadas e significados depreciativos.

As identidades induzem as pessoas a um conjunto de disposições (tendências, capacidades, propensões, hábitos, compromisso), e são construídas no interior das relações de poder. Uma das problemáticas principais a ser pontuada para os alunos está, portanto, na assimilação de certos discursos, sem confrontá-los com a realidade. Stuart Hall (2004, pp. 60-62) nos mostra que a construção da identidade é um fenômeno que se produz em referência aos outros e que se faz por meio da negociação direta com outros.


1.1 Objetivo geral


Trabalhar com as turmas, dos ensinos Fundamental e Médio, a história afro-brasileira, utilizando diferentes tipos de material didático e respeitando a característica de cada professor e disciplina que será ministrada nesse dia em sala de aula.


1.1.1 Objetivos específicos


Trabalhar em sala de aula com a conscientização em relação à cultura negra; relacionar o tema principalmente com a formação positiva do negro em sociedade.
Desenvolver, com as turmas dos ensinos Fundamental e Médio, discussões sobre os temas: status social, leis de ações afirmativas, cotas para universidades, televisão.
Despertar no aluno a consciência acerca da História e da cultura afro na formação nacional, ressaltando a sua importância.


1.2 Justificativa


O professor, mais do que aquele que ensina, é uma referência aos alunos, por isso ensinar e orientar são ideais que devem caminhar juntos na profissão. Sendo assim, não somente as palavras utilizadas, mas também suas condutas têm influência direta e indireta na relação estabelecida com seus educandos. Nas salas de aula são transmitidas mais do que palavras: são transmitidos valores e conteúdos que vão além do conhecimento mensurável.

Dessa forma, a proposta do Dia da Consciência Negra tem como objetivo mostrar a importância e a necessidade da construção concisa da participação da cultura afro na formação de toda história nacional. Torna-se necessário ressaltar que um dia é muito pouco perto do tamanho e das discussões que podem ser geradas pela apresentação da importância do negro em nossa sociedade, já que é mais “fácil” falar apenas sobre escravidão, preconceito ou racismo. Mesmo assim, é importante que haja um começo e que novos desafios e metodologias pedagógicas sejam criadas para que, além de conteúdos pré-vestibulares, os alunos sejam capazes de se tornarem, ao longo de todo o processo educacional, cidadãos conscientes e responsáveis pela sociedade da qual fazem parte.

Segundo Santos (2001), embora a escola sozinha não possa mudar, reverter anos de preconceito e discriminação em relação a desvalorização da população negra brasileira, ela tem o papel fundamental de criar subsídios para que seja construído, ao longo dos anos, a ideia da presença e da importância da diversidade cultural na formação histórico-social da nação brasileira. Assim, é significativamente interessante trazer elementos do cotidiano, como notícias de jornais e revistas, filmes e vídeos da Internet, para discutir essas desigualdades de tratamento com os alunos, a fim de deslocar e tencionar os conceitos rasos do senso comum e procurar entender seus significados; desconstruir este universo simbólico discriminatório, desprezível; e desvendar como ele se compõe, indo para além da formação objetiva que temos a princípio sobre o tema, estabelecendo outra forma de olhar estas questões, mais racional e orientada.

Em seu conjunto, o projeto manifestou um desejo de ampliar a reflexão para além da leitura primária da questão dos afrodescendentes no Brasil, situando a conjuntura de problemas e necessidades em contextos interpretativos mais amplos e próximos da realidade dos alunos. Desse modo, foi contextualizado que mudar essa situação demanda tempo e novas ações afirmativas e políticas reparadoras que interferem na formação do educando. Nosso papel como educador caminha no sentido de tentar tornar público essas questões e buscar discuti-los, claro que apenas nossa ação não irá de uma hora para outra modificar toda uma estrutura coercitiva construída historicamente, porém lança algumas inquietações, estas que, esperamos, trarão frutos futuramente.


1.3 Metodologia / proposta / materiais

Para a realização deste projeto, “O Dia da Consciência Negra”, foi necessário o envolvimento voluntário de todos os professores que estavam em sala de aula no dia 20 de Novembro de 2007. Foi proposto, pelos educadores responsáveis do projeto, que esses professores realizassem, baseado em sua disciplina, atividades diferentes que envolvessem a consciência da importância da população negra na formação histórica, política, cultural e social do país.

Os alunos do 2º e 3º ano do Ensino Médio desenvolveram atividades diferenciadas dos demais. Os do 2º ano ficaram responsáveis pela confecção de cartazes ou painéis com o enfoque do negro na sociedade brasileira. Também trabalharam com a história e exploram imagens por todo o Colégio. Já os alunos do 3º ano, tiveram como desafio organizar uma pequena palestra que foi apresentada a todos os alunos, na sala de multimídia do Colégio, com duração máxima de 10 minutos, com o intuito de contar aos outros alunos e conscientizá-los sobre a necessidade e importância do dia da consciência negra, o porquê dele ter sido criado e quais são as medidas tomadas para que haja a inserção dos negros na sociedade brasileira.


2. As atividades realizadas e apresentadas no Ensino Médio


Ao longo do 4º bimestre foi trabalhado, em sala de aula, com os alunos do 2º ano e do “terceirão”, diferentes conceitos e questões que remetiam à necessidade da criação e, posteriormente, inclusão e aplicação da disciplina História da África e História Afro-Brasileira nos currículos escolares. Dessa forma, ideias de cultura, história, raça, discriminação, preconceito, cor, cotas universitárias, fizeram parte das discussões e debates realizados sempre acompanhados de textos, músicas ou recursos visuais para uma melhor explicação e apresentação. Desde a oração, que ocorre cotidianamente no colégio, por se tratar de instituição católica, até exposições e apresentações, tudo foi pensado para que os educandos pudessem perceber que aquele seria um dia especial entre tantos outros.

Os alunos do 2º ano do Ensino Médio, que ficaram responsáveis pela confecção de cartazes, fizeram um trabalho incrível com os temas: Líderes negros, Manifestações religiosas, Mídia e Cultura afro e Mulheres negras. Eles distribuíram ao longo do pátio principal, do Colégio Anjos Custódios, todos os cartazes, que, expostos, chamavam a atenção pelas cores e detalhes, além de ressaltarem a importância e a presença do negro no Brasil. Para que os outros alunos pudessem ver logo pelas primeiras horas da manhã ao chegarem ao colégio, os alunos do 2 º ano montaram toda a exposição no dia anterior, dessa forma foi uma grande surpresa por parte dos demais ao chegarem na instituição de ensino e se depararem com aquela “novidade”. As propostas dessas atividades fizeram com que esses alunos se sentissem responsáveis e conscientes para trabalhar com a temática para o entendimento dos demais alunos no dia 20 de Novembro.

Como já foi mencionado, enquanto os alunos do 2º ano confeccionaram cartazes, o “terceirão” teve a tarefa de montar uma pequena palestra sobre a importância e a necessidade da consciência sobre a data e suas particularidades. Tanto a confecção dos cartazes como a apresentação que seria realizada pelo 3º ano do Ensino Médio, foram supervisionadas e realizadas através de muitas discussões e debate durante as aulas de Sociologia/Filosofia, do 4º Bimestre. Os alunos tiveram espaço para tirar dúvidas, assim como realizar diferentes atividades durante as aulas, cujo material usado remetia sempre a uma discussão entre a realidade e o “mito da democracia racial”.

A sala do 3º ano contava com 15 alunos, dessa forma eles foram divididos em cinco grupos de três integrantes. Cada grupo ficou responsável pela apresentação para duas turmas. Divididos dessas maneiras, as apresentações iniciaram-se às 8h da manhã e estenderam-se até às 9h40. Fora escolhido esse horário, pois os alunos puderam se apresentar, justamente, no período de aula da disciplina de Sociologia, não atrapalhando as atividades dos demais professores.
Já os alunos de 5º série ao 1º ano do Ensino Médio realizaram as atividades no dia 20 de novembro, em uma ideia de interdisciplinaridade. As apresentações contavam com um vídeo feito pelo cineasta Fernando Meirelles, cujo objetivo era questionar “quem somos nós brasileiros?”. Na verdade, o vídeo é uma propaganda de um banco do país e sua apresentação de 3min 02s revela um questionamento importante de repensar o que nos define como brasileiros, a nossa identidade.

Após a veiculação do vídeo, os alunos questionaram o que os demais tinham entendido, iniciando-se uma pequena discussão sobre o assunto, sobre a ideia de reconhecimento de identidade e diversidade cultural. A partir dessa discussão foi apresentado o porquê do projeto “O Dia da Consciência Negra”, explicando de forma simples, porém objetiva, qual a importância do dia 20 de novembro, qual a necessidade da compreensão e do entendimento das lutas e das reivindicações dos Movimentos Negros, já que o dia 20 existe, justamente, por conta de uma dessas reivindicações, bem como revelado que em algumas partes do país o dia era tido como feriado.

Muitos daqueles alunos nunca tinham pensado o negro além de sua função de “escravo” e nem sabiam que o dia 20 de novembro era um dia importante de luta e consciência. Assim, o objetivo de despertar algo novo nos alunos foi alcançado, pelo menos eles passaram a saber que a data não é uma ocasião qualquer, tanto no calendário escolar como no nacional.

Faz-se necessário ressaltar que realizar um projeto como esse, demanda tempo e preparação. Além disso, como ele tem um caráter de tema transversal, conta ainda com a participação de todos os professores e da ideia de interdisciplinaridade. Para os alunos, a inserção de uma nova discussão, uma nova maneira de ver “as coisas”, sempre impulsionou a busca por novos questionamentos e por querer aprender mais. O desenvolvimento do conhecimento fez com que comparassem suas atitudes com a teoria e, muitas vezes, desconstruíssem a ideia já existente do preconceito velado.


3. As dificuldades enfrentadas


Infelizmente, ainda existe a ideia de que um tema ou uma proposta como essa “atrapalha” o andamento daquilo que é mais importante, ou seja, o conteúdo pré-determinado e estabelecido. Com mais de 30 dias entre a reunião de Conselho de classe e a chegada do dia 20 de novembro, os professores tiveram um tempo para organizar suas atividades para que elas tivessem como tema, pelo menos naquele dia, a questão dos negros no Brasil. Entretanto, não foi isso que notamos de alguns professores, que salientaram a falta de tempo para pesquisar algo novo e mostraram despreparo, mesmo com o auxílio dos coordenadores e professores responsáveis pelo projeto. Vimos desfigurar na nossa frente a ideia de interdisciplinaridade, já que ela só pode funcionar quando há uma colaboração mútua entre os professores. Não podemos, entretanto, generalizar a falta de participação, pois alguns professores (Inglês e Espanhol) se esforçaram e fizeram diferente, incluíram em seus projetos pedagógicos, no dia 20 de novembro, a temática proposta, não deixando de trabalhar os conteúdos de suas disciplinas, apenas acrescentando em seu cotidiano escolar uma nova discussão.

Outra alegação para não se trabalhar a temática, referia-se ao fato de estarmos em final de bimestre e de haver revisões e provas a serem realizadas. A resistência maior, nesses casos, vinha das disciplinas de exatas, como Física e Matemática. Mas, de todas as turmas, apenas a turma do 1º ano do Ensino Médio deixou de ver a apresentação de seus colegas.

Para Bittencourt (2001, p. 12) esse tipo de atitude acentua a diferenciação entre os chamados “cúrriculos preativos”, ou seja, aqueles que são determinados pela instituição através de seu papel pedagógico, e os “currículos interativos”, que são as práticas em sala de aula. Esse tipo de ação tende a prejudicar a formação diferenciada do aluno por meio de uma prática que vai além daquelas atividades propostas e impostas inicialmente pela coordenação pedagógica.


Considerações finais


Acreditamos ser de importância vital os educadores inovarem em seus conhecimentos e em suas práticas, estimularem a reflexão, a criatividade, as dinâmicas de grupo. Na mesma medida, suas práticas educacionais devem ser ampliadas pela busca de novos horizontes, tendo como meta, a melhoria pedagógica da aprendizagem, bem como a formação humanística da escola.

Por isso, este projeto visou elaborar atividades que desconstruíssem de uma série de impressões equivocadas sobre a cultura e identidade dos afrodescendentes, que ainda permeiam dentro de nossa sociedade. Daí o interesse em elaborar uma série de conversas que procurassem questionar, a partir oficinas, palestras, pesquisas, as visões laterais e equivocadas em relação a esse grupo. Este projeto transformou-se em uma importante oportunidade de reflexão sobre a história e cultura afro-brasileira e uma forma alternativa de metodologia educacional.

Nessa trajetória, logo de início, foi interessante observar as diversas discussões que foram levantadas. Dentre elas, por exemplo, foi perceber que apesar de em muitas partes do país a data ser comemorada como feriado, muitas cidades, Marialva/PR inclusive, ainda resistem a essa data e ao reconhecimento do valor histórico da cultura afro. Outros fatos levantados saíram da percepção das desigualdades nos papéis sociais ocupados por pessoas negras em relação a outros grupos. Muito foi discutido, sobre as diferenças de oportunidades de emprego e a absurda variação salarial ainda existente. Ligado a este fato, também a noção de que ainda no Brasil os negros, em grande maioria, permanecem ocupando as profissões com menor remuneração, destinados a todos que não estudaram e formaram uma carreira nos moldes da realidade social.
Em um dos debates em sala de aula, foi levantada, ainda, a questão da ascensão social – mesmo com toda pressão social, existem afrodescendentes que obtiveram, devido muito esforço, relativo sucesso profissional. Destacaram-se nas falas dos alunos: esportistas, atores, músicos e apresentadores de programas televisivos. Entretanto, logo foi apontada a necessidade de precaução nessa questão, uma vez que, apesar dessa realidade, o número de ocorrência ainda está longe de qualquer realidade minimamente justa. Apenas como parêntese, devemos lembrar que neste tema poderia, ainda, ser trabalhado o fenômeno da fragmentação das identidades na sociedade moderna e outras perspectivas.

Como vimos, a armadilha de qualquer discurso “universalizante” e generalizante é acreditar na semelhança entre o familiar e o conhecido. Por isso, questionar a realidade, praticar a “arte da desconfiança” – contra os pressupostos tidos como inatos e naturais –, é essencial para revelar as diversas formas de discriminação física e simbólica que ainda segregam e marginalizam os afrodescendentes.

Também foi trabalhado com os estudantes que, no momento em que se defende o discurso de igualdade e universalidade, assume-se, na realidade, um discurso de valorização do ethos dominante, tendo como função e objetivo a manutenção e conservação da ordem social, a ordem de classes. Desse modo, conhecer características fundamentais do Brasil nas mais diversas dinâmicas sociais, materiais, políticas e culturais é um meio vital para construir, progressivamente, a noção de identidade nacional e indivíduos de direitos, bem como criar o sentimento de pertinência a uma coletividade. Fatos nos levam a ver sob nova luz o próprio mundo o qual fazemos parte, e isto constitui também uma transformação da consciência.


Referências


BITTENCOURT, Circe. Capitalismo e cidadania nas atuais propostas curriculares de História. In: ______. O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2001, p.11-27.
MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
SARANDY, Flávio. Reflexões acerca do sentido da Sociologia no Ensino Médio. In: ______. Sociologia e ensino em debate: experiências e discussão de Sociologia no Ensino Médio. Ijuí, 2004.
SANTOS, Isabel A. A responsabilidade da escola na eliminação do preconceito racial: alguns caminhos. In: ______. Racismo e anti-racismo na educação: repensando na escola. São Paulo: 2001, p. 105.
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