Sociologia
20/08/2008
Capitalismo castiga jovens brasileiros
20/08/2008
Jonathan Constantino
de Niterói (RJ)
Ao lado da organização política, o outro eixo principal do 1º Encontro Nacional da Juventude do Campo e da Cidade (ENJCC) foi analisar a diminuição das perspectivas dos jovens dentro da sociedade capitalista. Segundo as discussões realizadas, isso pode ser verificado através de dados referentes à educação, emprego e criminalidade, além de uma compreensão de mercantilização da vida.
De acordo com estudo publicado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), em abril, o Brasil possui cerca de 51 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos. Dos jovens entre 15 e 17, apenas 48% estão cursando o ensino médio e 18% estão fora da escola. Dentre aqueles com 18 a 24 anos, a situação é ainda mais alarmante, pois apenas 13% estão no ensino superior e 66% não estudam.
Porém, no encontro, foi salientado que tais fatos não podem ser analisados de modo isolado. A renda familiar, a etnia e o local em que habita interferem no acesso do jovem à educação e na maneira como adquire informação. Esse acesso, por sua vez, influencia no modo como esses indivíduos serão inseridos no mercado de trabalho e atuarão no seu contexto social.
Com relação ao emprego, o Datafolha publicou, em julho, uma pesquisa apontando que 33% dos jovens entre 16 e 25 anos possuem anseios de realização profissional. No entanto, o número contrasta com a realidade do desemprego que, entre os jovens, é de 46%, segundo o Ipea. A pesquisa ainda aponta que 31% dos jovens são pobres e, destes, 70% são negros.
Violência
No que diz respeito à criminalidade, nas atividades do ENJCC chamou-se a atenção para o fato de que a juventude tem sido a principal vítima da violência. “A ONU declara que um país está em guerra civil quando 15 mil jovens por ano morrem violentamente. No Brasil, morrem cerca de 60 mil”, disse Tatiana Oliveira, da Escola Nacional Florestan Fernandes.
As maiores vítimas são os pobres e negros. As intervenções feitas durante o encontro revelaram tratar-se de um processo de criminalização da pobreza, que pode ser ilustrado com o trágico episódio que vitimou três jovens do Morro da Providência, no Rio de Janeiro, em junho.
A violência atinge em média 50% mais os jovens negros e estes são, ainda mais que os brancos, vitimizados por um contexto social que gera profundos impactos em seu cotidiano, visão de mundo e possibilidades concretas de construção de futuro, denuncia o Ipea.
Rafael Vilas-Boas, do setor de cultura do MST, lembra que o Brasil possui a segunda maior população negra do mundo, atrás apenas da Nigéria e acrescentou que “a teoria de esquerda no Brasil precisa rever certas pautas, como a questão racial. Se os movimentos sociais e partidos não atentarem para a questão do negro, perderão a sua legitimidade”.
Mercantilização da vida
Por fim, Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST, observa que a juventude, massificada por um conglomerado midiático que reproduz um pensamento autocrático burguês e consumista, tem sido atingida por um fenômeno de mercantilização da vida. “As nossas relações têm sido intermediadas por coisas”, completa.
Nesse sentido, não só o modo como as pessoas se relacionam, mas seus próprios anseios estão relacionados a coisas. Ao menos é o que aponta a pesquisa do Datafolha, na qual grande parte dos jovens anseia possuir um veículo próprio (40%), casa (36%), investe principalmente em vestuário e calçado (61%) e consideram-se muito consumistas (26%).
São dados importantes a serem analisados, porém Vilas-Boas alerta que “o gosto é uma construção ideológica”. Dessa forma, não há como transformar a situação da juventude sem modificar a estrutura social, enfrentar o neoliberalismo e modificar o modelo de desenvolvimento econômico. “Nossa luta tem de ser anti-sistêmica. Ou superamos o capital ou a humanidade não sobreviverá por muito tempo”, acrescentou Gilmar Mauro.
fonte:www.brasildefato.com.br
Professor, envie aqui seu comentário sobre esta notícia ou seu relato de experiência em sala, Obrigado.
Jonathan Constantino
de Niterói (RJ)
Ao lado da organização política, o outro eixo principal do 1º Encontro Nacional da Juventude do Campo e da Cidade (ENJCC) foi analisar a diminuição das perspectivas dos jovens dentro da sociedade capitalista. Segundo as discussões realizadas, isso pode ser verificado através de dados referentes à educação, emprego e criminalidade, além de uma compreensão de mercantilização da vida.
De acordo com estudo publicado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), em abril, o Brasil possui cerca de 51 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos. Dos jovens entre 15 e 17, apenas 48% estão cursando o ensino médio e 18% estão fora da escola. Dentre aqueles com 18 a 24 anos, a situação é ainda mais alarmante, pois apenas 13% estão no ensino superior e 66% não estudam.
Porém, no encontro, foi salientado que tais fatos não podem ser analisados de modo isolado. A renda familiar, a etnia e o local em que habita interferem no acesso do jovem à educação e na maneira como adquire informação. Esse acesso, por sua vez, influencia no modo como esses indivíduos serão inseridos no mercado de trabalho e atuarão no seu contexto social.
Com relação ao emprego, o Datafolha publicou, em julho, uma pesquisa apontando que 33% dos jovens entre 16 e 25 anos possuem anseios de realização profissional. No entanto, o número contrasta com a realidade do desemprego que, entre os jovens, é de 46%, segundo o Ipea. A pesquisa ainda aponta que 31% dos jovens são pobres e, destes, 70% são negros.
Violência
No que diz respeito à criminalidade, nas atividades do ENJCC chamou-se a atenção para o fato de que a juventude tem sido a principal vítima da violência. “A ONU declara que um país está em guerra civil quando 15 mil jovens por ano morrem violentamente. No Brasil, morrem cerca de 60 mil”, disse Tatiana Oliveira, da Escola Nacional Florestan Fernandes.
As maiores vítimas são os pobres e negros. As intervenções feitas durante o encontro revelaram tratar-se de um processo de criminalização da pobreza, que pode ser ilustrado com o trágico episódio que vitimou três jovens do Morro da Providência, no Rio de Janeiro, em junho.
A violência atinge em média 50% mais os jovens negros e estes são, ainda mais que os brancos, vitimizados por um contexto social que gera profundos impactos em seu cotidiano, visão de mundo e possibilidades concretas de construção de futuro, denuncia o Ipea.
Rafael Vilas-Boas, do setor de cultura do MST, lembra que o Brasil possui a segunda maior população negra do mundo, atrás apenas da Nigéria e acrescentou que “a teoria de esquerda no Brasil precisa rever certas pautas, como a questão racial. Se os movimentos sociais e partidos não atentarem para a questão do negro, perderão a sua legitimidade”.
Mercantilização da vida
Por fim, Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST, observa que a juventude, massificada por um conglomerado midiático que reproduz um pensamento autocrático burguês e consumista, tem sido atingida por um fenômeno de mercantilização da vida. “As nossas relações têm sido intermediadas por coisas”, completa.
Nesse sentido, não só o modo como as pessoas se relacionam, mas seus próprios anseios estão relacionados a coisas. Ao menos é o que aponta a pesquisa do Datafolha, na qual grande parte dos jovens anseia possuir um veículo próprio (40%), casa (36%), investe principalmente em vestuário e calçado (61%) e consideram-se muito consumistas (26%).
São dados importantes a serem analisados, porém Vilas-Boas alerta que “o gosto é uma construção ideológica”. Dessa forma, não há como transformar a situação da juventude sem modificar a estrutura social, enfrentar o neoliberalismo e modificar o modelo de desenvolvimento econômico. “Nossa luta tem de ser anti-sistêmica. Ou superamos o capital ou a humanidade não sobreviverá por muito tempo”, acrescentou Gilmar Mauro.
fonte:www.brasildefato.com.br
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