Sociologia
02/09/2008
Sincretismo Religioso & Ritos Sacrificiais
São inúmeras as definições que se dá ao termo sincretismo. No âmbito religioso pode ser definido como a fusão de diferentes cultos ou doutrinas religiosas, com reinterpretação de seus elementos, formando quase que uma nova religião, embora se enquadre dentro de uma religião ou seita já existente. A presente pesquisa pretende enfocar algumas das inúmeras influências das religiões afro-brasileiras, como o candomblé e a umbanda, no catolicismo popular. Priorizamos as expressões corporais e os ritos sacrificiais como elementos sincréticos mais evidentes nas devoções populares do catolicismo brasileiro.
Uma das constatações do IBGE em relação a este Censo é que as religiões afro-brasileiras, como o candomblé e a umbanda, perderam adeptos nestes últimos anos. Segundo os dados do Censo 2000, há atualmente, segundo declarações obtidas, 571,3 mil praticantes destas duas denominações religiosas de origem afro, o que corresponde a 0,3% da população brasileira. Em 1991, eles representavam 0,4% da população, ou seja, houve um declínio de 11, 9% no número de adeptos em apenas nove anos. De acordo com pesquisadores do IBGE, as causas deste declínio ou retração dos que se declaram membros praticantes das religiões afro são os avanços dos pentecostais ou dos movimentos pentecostais católicos, como a Renovação Carismática Católica (RCC) ou ainda o próprio sincretismo religioso.
Membros ligados a outras religiões, ou mesmo ao catolicismo popular, embora pratiquem rituais sincréticos ou freqüentem terreiros de umbanda ou candomblé, se declaram católicos aos pesquisadores do Censo. Portanto, o declínio constatado pelos resultados censitários pode apontar não apenas a diminuição dos adeptos desta ou daquela denominação religiosa, mas a importância e o papel do sicretismo no campo religioso, principalmente no católico, que continua sendo ainda a religião declarada pela maioria do povo brasileiro. Essa declaração católica ao Censo, segundo Reginaldo Prandi, corresponde a uma única opção que o Censo oferece. Na planilha do IBGE não há possibilidade de se declarar membro de mais de uma religião. A partir disso, diz Prandi: “como apenas uma das religiões é registrada, muitos adeptos dos cultos afro-brasileiros se declaram católicos por circunstâncias históricas”. Segundo pesquisadores do Censo, “quando analisadas separadamente, nota-se que o encolhimento do número de adeptos é grande na umbanda, mas que no candomblé houve aumento”. Os resultados mostram que em 1991 os que se declaravam membros do candomblé eram cerca de 107 mil e no Censo de 2000 esse número subiu para 140 mil, ou seja, representa um crescimento de 30,8%. No caso da umbanda houve um declínio significativo. Em 1991 os declarantes correspondiam a 542 mil e no Censo de 2000 o número dos que se diziam membros oficiais da umbanda caiu para 432 mil, ocorrendo um decréscimo de 20,2% dos devotos desta religião afro-brasileira. Se o sincretismo contribui para camuflar esta realidade, tal apontamento indireto do Censo nos instigou a aprofundar esta pesquisa sobre este tema e como ele aparece na religião oficialmente majoritária, o catolicismo.
O sincretismo é um tema que tem sido amplamente abordado nos estudos da sociologia da religião. No entanto, ainda dá margem para diversas análises, continuando como referencial nos estudos da religiosidade brasileira. Para abordar aqui este tema já há muito utilizado, usamos uma paráfrase do filósofo francês Gilles Deleuze, que tomou emprestada do meio publicitário, a expressão faire la différence e a empregou como modelo conceitual em sua obra Diferença e Repetição, mostrando que fazer a diferença nem sempre é criar algo novo, inédito, mas inserir algo novo, de uma forma diferente, em algo já conhecido, repetido, ou seja, inserir o novo na repetição. Essa inserção deve ser feita de tal modo que, à medida que se repete, a diferença vai aparecendo. É um pouco isso que temos como pretexto nos textos que aqui seguem: inserir algo novo em temas já conhecidos, como o sincretismo religioso na devoção popular do catolicismo brasileiro. Tema aparentemente desgastado pelas excessivas abordagens ao longo das últimas cinco décadas, mas que se atualiza quando enfocado de maneira nova, ressaltando em particularidades pouco analisadas, como é o caso dos ritos sacrificiais e das expressões corporais do catolicismo brasileiro.
Neste trabalho, buscamos fazer um recorte do catolicismo popular, focalizando-o em três momentos: o primeiro é um enfoque às influências africanas no catolicismo popular brasileiro, destacando o hibridismo religioso que hora se oculta, hora se evidencia nas práticas devocionais católicas; o paralelismo sincrético entre santos e orixás; e os rituais sincréticos da religiosidade popular.
fonte:http://www.editorazouk.com.br
veja também o Centro Cultural Africano no 4º FÓRUM DE TEOLOGIA DAS DIVINDADES AFRICANAS
Professor, envie aqui seu comentário sobre esta notícia ou seu relato de experiência em sala, Obrigado.
Uma das constatações do IBGE em relação a este Censo é que as religiões afro-brasileiras, como o candomblé e a umbanda, perderam adeptos nestes últimos anos. Segundo os dados do Censo 2000, há atualmente, segundo declarações obtidas, 571,3 mil praticantes destas duas denominações religiosas de origem afro, o que corresponde a 0,3% da população brasileira. Em 1991, eles representavam 0,4% da população, ou seja, houve um declínio de 11, 9% no número de adeptos em apenas nove anos. De acordo com pesquisadores do IBGE, as causas deste declínio ou retração dos que se declaram membros praticantes das religiões afro são os avanços dos pentecostais ou dos movimentos pentecostais católicos, como a Renovação Carismática Católica (RCC) ou ainda o próprio sincretismo religioso.
Membros ligados a outras religiões, ou mesmo ao catolicismo popular, embora pratiquem rituais sincréticos ou freqüentem terreiros de umbanda ou candomblé, se declaram católicos aos pesquisadores do Censo. Portanto, o declínio constatado pelos resultados censitários pode apontar não apenas a diminuição dos adeptos desta ou daquela denominação religiosa, mas a importância e o papel do sicretismo no campo religioso, principalmente no católico, que continua sendo ainda a religião declarada pela maioria do povo brasileiro. Essa declaração católica ao Censo, segundo Reginaldo Prandi, corresponde a uma única opção que o Censo oferece. Na planilha do IBGE não há possibilidade de se declarar membro de mais de uma religião. A partir disso, diz Prandi: “como apenas uma das religiões é registrada, muitos adeptos dos cultos afro-brasileiros se declaram católicos por circunstâncias históricas”. Segundo pesquisadores do Censo, “quando analisadas separadamente, nota-se que o encolhimento do número de adeptos é grande na umbanda, mas que no candomblé houve aumento”. Os resultados mostram que em 1991 os que se declaravam membros do candomblé eram cerca de 107 mil e no Censo de 2000 esse número subiu para 140 mil, ou seja, representa um crescimento de 30,8%. No caso da umbanda houve um declínio significativo. Em 1991 os declarantes correspondiam a 542 mil e no Censo de 2000 o número dos que se diziam membros oficiais da umbanda caiu para 432 mil, ocorrendo um decréscimo de 20,2% dos devotos desta religião afro-brasileira. Se o sincretismo contribui para camuflar esta realidade, tal apontamento indireto do Censo nos instigou a aprofundar esta pesquisa sobre este tema e como ele aparece na religião oficialmente majoritária, o catolicismo.
O sincretismo é um tema que tem sido amplamente abordado nos estudos da sociologia da religião. No entanto, ainda dá margem para diversas análises, continuando como referencial nos estudos da religiosidade brasileira. Para abordar aqui este tema já há muito utilizado, usamos uma paráfrase do filósofo francês Gilles Deleuze, que tomou emprestada do meio publicitário, a expressão faire la différence e a empregou como modelo conceitual em sua obra Diferença e Repetição, mostrando que fazer a diferença nem sempre é criar algo novo, inédito, mas inserir algo novo, de uma forma diferente, em algo já conhecido, repetido, ou seja, inserir o novo na repetição. Essa inserção deve ser feita de tal modo que, à medida que se repete, a diferença vai aparecendo. É um pouco isso que temos como pretexto nos textos que aqui seguem: inserir algo novo em temas já conhecidos, como o sincretismo religioso na devoção popular do catolicismo brasileiro. Tema aparentemente desgastado pelas excessivas abordagens ao longo das últimas cinco décadas, mas que se atualiza quando enfocado de maneira nova, ressaltando em particularidades pouco analisadas, como é o caso dos ritos sacrificiais e das expressões corporais do catolicismo brasileiro.
Neste trabalho, buscamos fazer um recorte do catolicismo popular, focalizando-o em três momentos: o primeiro é um enfoque às influências africanas no catolicismo popular brasileiro, destacando o hibridismo religioso que hora se oculta, hora se evidencia nas práticas devocionais católicas; o paralelismo sincrético entre santos e orixás; e os rituais sincréticos da religiosidade popular.
fonte:http://www.editorazouk.com.br
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