Sociologia
28/10/2008
A corrupção é uma maneira de ver o Mundo
Wilian Carlos Cipriani Barom
Os ânimos ainda estão alterados, a respiração ofegante e o descontentamento aparente: mais uma eleição se passou, para o bem ou para o mal. É tão difícil sair inteiro de um processo eleitoral sem se sujar moralmente. É tão difícil votar consciente em meio aos candidatos que nos foram apresentados. É tão difícil não se irritar com os resultados “democraticamente” conquistados. Mas todo este momento é uma ilusão, inclusive o nosso próprio descontentamento.
O horário eleitoral foi uma farsa do início ao fim. Os candidatos não apresentaram propostas, pois descobriram uma fórmula: falar o que eleitores querem ouvir é mais “lucrativo” do que falar o que efetivamente será feito. E assim, aos sem trabalho falou-se em empregos. Aos sem saúde falou-se em hospitais. Aos sem escolas falou-se em educação. E por aí vai com a creche, estradas, moradia, segurança, comida, leite, dentaduras etc. Apelar ao psicológico dos carentes é mais seguro do que prometer futuro. Futuro é muito longe, não se pega e se come, não se vê e não se comprova. O candidato tem que ser muito corajoso – e não ter amor pela candidatura – para prometer futuro ao seu eleitor.
O dia da eleição, propriamente dito, foi apenas um teatro de nós brasileiros interpretando O Cidadão. Na frente dos locais de votação: “bocas de urna”, “propinas” e “fiscalizações”. Você não poderia publicamente se manifestar no intuito de convencer os outros, mas tudo acontecia silenciosamente e de modo sincronizado independente da sua vontade. Os panfletos sendo entregues, o dinheiro circulando, os fiscais fingindo não ver, os policiais abafando apenas os casos “isolados”.
O resultado da eleição nem merece um parágrafo. Foi óbvio e racionalmente previsto. Aquilo que na grande mídia saiu como “zebra”, na grande lógica dos políticos se explica como “uma mão lava a outra”.
Mas o que mais me causa estranheza não são os políticos corruptos, mas sim os brasileiros que se dizem honestos. Parecem esquecer um dos maiores princípios da DEMOCRACIA: o governador representa o eleitor, e não o contrário. O político sai do povo, é do povo, e não um deus/diabo que com ele convive. O ser corrupto que lá está, aqui estava e daqui saiu. A corrupção não está lá e sim aqui. Prova disso é que quando perguntamos a alguém se gostaria de ser político, sua primeira resposta é “sim, para ganhar bem”, ou, até mesmo, “para roubar”. Assim, somos coniventes com toda esta corrupção, pois lá no fundo algo diz: deveríamos ser nós, também quero, um dia chego lá. Como mérito, os salários altos dos políticos se tornam alvos de cobiça e inveja do brasileiro. E ele se torna aquele que poderia ser eu, mas que por algum motivo não é. Por isso, não o culpo pelo sucesso ilícito e o deixo fazer o que quer e no máximo socialmente, “da boca pra fora”, condeno-o apenas para não ficar chato.
Ainda digo mais. Prova de que compartilhamos a sujeira dos políticos são as nossas costumeiras ações que buscam apenas o individualismo, a vantagem e a posição de destaque custe o que custar. Quando achamos dinheiro dizemos “achado não é roubado”. Quando incomodamos os outros dizemos “os incomodados que se retirem”. E quando sabemos que estamos errados dizemos “política não se discute”. Ficamos felizes com promoções desmerecidas, filas encurtadas e derrotas do time adversário. Em casa, em favor próprio, não condenamos o “jeitinho brasileiro”, mas o fazemos quando o outro é o beneficiado. Deste modo, podemos afirmar que o brasileiro aceita diariamente a corrupção quando ele é favorecido.
Se somos capazes de diariamente legislar em favor próprio, pouco se importando com os outros, com os carentes, com os necessitados, com as ONGs, com o planeta etc – se esta é a nossa sociedade – como podemos acreditar que o político será diferente? Pensará diferente? Agirá diferente? A menos que nossos políticos venham de outros planetas. Enquanto vierem de nossa sociedade corrompida, apenas podemos esperar que representem bem esta cultura individualista do Brasil Moderno.
Devemos olhar para nós mesmos e reconhecer esta verdade. Somente com esta consciência, optando por uma outra vida sem vantagens e individualismos, é que podemos de fato exigir algo de alguém. Caso contrário, a corrupção continuará a seguir sua histórica trajetória: de nossas casas ao Senado e à Brasília.
fonte - enviado por professor pela página http://sociologia.seed.pr.gov.br/
Professor, envie aqui seu comentário sobre esta notícia ou seu relato de experiência em sala, Obrigado.
Os ânimos ainda estão alterados, a respiração ofegante e o descontentamento aparente: mais uma eleição se passou, para o bem ou para o mal. É tão difícil sair inteiro de um processo eleitoral sem se sujar moralmente. É tão difícil votar consciente em meio aos candidatos que nos foram apresentados. É tão difícil não se irritar com os resultados “democraticamente” conquistados. Mas todo este momento é uma ilusão, inclusive o nosso próprio descontentamento.
O horário eleitoral foi uma farsa do início ao fim. Os candidatos não apresentaram propostas, pois descobriram uma fórmula: falar o que eleitores querem ouvir é mais “lucrativo” do que falar o que efetivamente será feito. E assim, aos sem trabalho falou-se em empregos. Aos sem saúde falou-se em hospitais. Aos sem escolas falou-se em educação. E por aí vai com a creche, estradas, moradia, segurança, comida, leite, dentaduras etc. Apelar ao psicológico dos carentes é mais seguro do que prometer futuro. Futuro é muito longe, não se pega e se come, não se vê e não se comprova. O candidato tem que ser muito corajoso – e não ter amor pela candidatura – para prometer futuro ao seu eleitor.
O dia da eleição, propriamente dito, foi apenas um teatro de nós brasileiros interpretando O Cidadão. Na frente dos locais de votação: “bocas de urna”, “propinas” e “fiscalizações”. Você não poderia publicamente se manifestar no intuito de convencer os outros, mas tudo acontecia silenciosamente e de modo sincronizado independente da sua vontade. Os panfletos sendo entregues, o dinheiro circulando, os fiscais fingindo não ver, os policiais abafando apenas os casos “isolados”.
O resultado da eleição nem merece um parágrafo. Foi óbvio e racionalmente previsto. Aquilo que na grande mídia saiu como “zebra”, na grande lógica dos políticos se explica como “uma mão lava a outra”.
Mas o que mais me causa estranheza não são os políticos corruptos, mas sim os brasileiros que se dizem honestos. Parecem esquecer um dos maiores princípios da DEMOCRACIA: o governador representa o eleitor, e não o contrário. O político sai do povo, é do povo, e não um deus/diabo que com ele convive. O ser corrupto que lá está, aqui estava e daqui saiu. A corrupção não está lá e sim aqui. Prova disso é que quando perguntamos a alguém se gostaria de ser político, sua primeira resposta é “sim, para ganhar bem”, ou, até mesmo, “para roubar”. Assim, somos coniventes com toda esta corrupção, pois lá no fundo algo diz: deveríamos ser nós, também quero, um dia chego lá. Como mérito, os salários altos dos políticos se tornam alvos de cobiça e inveja do brasileiro. E ele se torna aquele que poderia ser eu, mas que por algum motivo não é. Por isso, não o culpo pelo sucesso ilícito e o deixo fazer o que quer e no máximo socialmente, “da boca pra fora”, condeno-o apenas para não ficar chato.
Ainda digo mais. Prova de que compartilhamos a sujeira dos políticos são as nossas costumeiras ações que buscam apenas o individualismo, a vantagem e a posição de destaque custe o que custar. Quando achamos dinheiro dizemos “achado não é roubado”. Quando incomodamos os outros dizemos “os incomodados que se retirem”. E quando sabemos que estamos errados dizemos “política não se discute”. Ficamos felizes com promoções desmerecidas, filas encurtadas e derrotas do time adversário. Em casa, em favor próprio, não condenamos o “jeitinho brasileiro”, mas o fazemos quando o outro é o beneficiado. Deste modo, podemos afirmar que o brasileiro aceita diariamente a corrupção quando ele é favorecido.
Se somos capazes de diariamente legislar em favor próprio, pouco se importando com os outros, com os carentes, com os necessitados, com as ONGs, com o planeta etc – se esta é a nossa sociedade – como podemos acreditar que o político será diferente? Pensará diferente? Agirá diferente? A menos que nossos políticos venham de outros planetas. Enquanto vierem de nossa sociedade corrompida, apenas podemos esperar que representem bem esta cultura individualista do Brasil Moderno.
Devemos olhar para nós mesmos e reconhecer esta verdade. Somente com esta consciência, optando por uma outra vida sem vantagens e individualismos, é que podemos de fato exigir algo de alguém. Caso contrário, a corrupção continuará a seguir sua histórica trajetória: de nossas casas ao Senado e à Brasília.
fonte - enviado por professor pela página http://sociologia.seed.pr.gov.br/
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