Sociologia
29/10/2008
Número global de desempregados pode passar de 200 milhões
Juan Somavia*
A atual crise atingiu duramente o setor financeiro. Quais as conseqüências para as pessoas e para a economia real? Desconhecemos a gravidade desta crise e sua duração. Mas sabemos que se não agirmos de maneira decisiva as conseqüências para milhões de pessoas e suas condições de vida e de trabalho serão profundas.
Diante da urgência, as propostas se destinarm a uma melhor regulação financeira e a um mecanismo de segurança global mais eficaz. Mas devemos nos projetar para além dos mercados financeiros. A crise não se sentiu apenas em Wall Street, mas nas ruas do mundo inteiro.
O mundo necessita de um plano de resgate econômico para todos aqueles e aquelas que trabalham, investem e asseguram o funcionamento da economia real. Com regras e políticas favoráveis ao trabalho decente e às empresas produtivas. Com o restabelecimento do liame entre produtividade e salários, entre crescimento e desenvolvimento. As pessoas devem reencontrar confiança numa economia que também funciona para elas. Essa mensagem é urgente.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) fez uma primeira estimativa do impacto da crise sobre a vida cotidiana das pessoas em todos os níveis da sociedade. O número global de desempregados poderá aumentar em 20 milhões, daqui ao fim de 2009 – ultrapassando o número de 200 milhões de desempegados no mundo pela primeira vez na História. As pessoas que trabalham na construção, na indústria automobilística, no turismo, na finança, nos serviços e no setor imobiliário serão as primeiras atingidas.
Além disso, o número de pessoas trabalhando e vivendo com menos de um dólar por dia poderá aumentar em 40 milhões e o de pessoas vivendo com 2 dólares por dia em 100 milhões. Por mais sombrias que sejam essas previsões, é temeroso pensar que se trata apenas de uma subestimação, caso os efeitos do desaquecimento econômico e da recessão que se aventam não forem rapidamente controlados.
Devemos concentrar nossa ação sobre as pessoas, as empresas, a economia real. Quatro eixos devem ser observados. O primeiro, restaurar a circulação do crédito. As medidas de urgência já foram tomadas ou estão sendo preparadas. Segundo, dar sustentação aos mais vulneráveis. Uma série de medidas estão ao alcance das mãos, da proteção às aposentadorias ao seguro desemprego, passando pela ajuda às PME (Pequenas e Médias Empresas), que persevera sendo o primeiro nicho de emprego. Terceiro, políticas públicas eficazes e uma regulação inteligente, que recompense o trabalho e a empresa. Nós estamos sofrendo os espamos de um sistema financeiro que perdeu o rumo no plano ético.
Devemos retomar a função primeira e legítima da finança, que é promover a economia real, emprestar aos empreendedores que investem, inovam, criam empregos, produzem. Retomemos o papel primeiro dos mercados financeiros: lubrificar a engrenagem da economia real.
Enfim, e isso é crucial, devemos relevar os desafios fundamentais subjacentes. Muito antes da crise financeira atual, nós já estávamos em crise. Uma crise marcada por uma pobreza maciça em escala mundial, de desigualdades sociais crescentes, de uma informalidade e de um trabalho precário em pleno avanço. Uma crise da globalização que trouxe benefícios consideráveis, mas que, para muitos, é desequilibrada, injusta e não-durável.
É urgente reencontrar um equilíbrio. Este passa pela sustentação das pessoas e da produção. É preciso salvar a economia real. Lembremo-nos de que as pessoas julgam sua vida e seu amanhã em função do seu percurso no trabalho. Mais do que nunca, devemos lutar para que as políticas públicas e os serviços sociais necessários estejam à altura da principal preocupação das pessoas: uma oportunidade justa de ter um trabalho decente.
Para manter abertas as economias e as sociedades, as organizações internacionais responsáveis devem se reunir em torno de um quadro multilateral para uma mundialização justa e duradoura. As negociações comerciais estão em pane; os mercados financeiros vacilam e estão à beira do colapso; a mudança climática está ocorrendo; toda refundação deverá encontrar um método para integrar as políticas financeira e econômica, social e ambiental no âmbito global. A crise das subprimes não será resolvida com políticas tímidas. O tempo é de audácia, de pensamento e ação inovadores, para responder aos imensos desafios que estão postos diante de nós.
* Juan Somavia é diretor geral da OIT (artigo publicado originalmente no jornal Le Monde, em 27 de outubro de 2008)
Tradução: Katarina Peixoto
fonte:www.cartamaior.com.br
Professor, envie aqui seu comentário sobre esta notícia ou seu relato de experiência em sala, Obrigado.
A atual crise atingiu duramente o setor financeiro. Quais as conseqüências para as pessoas e para a economia real? Desconhecemos a gravidade desta crise e sua duração. Mas sabemos que se não agirmos de maneira decisiva as conseqüências para milhões de pessoas e suas condições de vida e de trabalho serão profundas.
Diante da urgência, as propostas se destinarm a uma melhor regulação financeira e a um mecanismo de segurança global mais eficaz. Mas devemos nos projetar para além dos mercados financeiros. A crise não se sentiu apenas em Wall Street, mas nas ruas do mundo inteiro.
O mundo necessita de um plano de resgate econômico para todos aqueles e aquelas que trabalham, investem e asseguram o funcionamento da economia real. Com regras e políticas favoráveis ao trabalho decente e às empresas produtivas. Com o restabelecimento do liame entre produtividade e salários, entre crescimento e desenvolvimento. As pessoas devem reencontrar confiança numa economia que também funciona para elas. Essa mensagem é urgente.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) fez uma primeira estimativa do impacto da crise sobre a vida cotidiana das pessoas em todos os níveis da sociedade. O número global de desempregados poderá aumentar em 20 milhões, daqui ao fim de 2009 – ultrapassando o número de 200 milhões de desempegados no mundo pela primeira vez na História. As pessoas que trabalham na construção, na indústria automobilística, no turismo, na finança, nos serviços e no setor imobiliário serão as primeiras atingidas.
Além disso, o número de pessoas trabalhando e vivendo com menos de um dólar por dia poderá aumentar em 40 milhões e o de pessoas vivendo com 2 dólares por dia em 100 milhões. Por mais sombrias que sejam essas previsões, é temeroso pensar que se trata apenas de uma subestimação, caso os efeitos do desaquecimento econômico e da recessão que se aventam não forem rapidamente controlados.
Devemos concentrar nossa ação sobre as pessoas, as empresas, a economia real. Quatro eixos devem ser observados. O primeiro, restaurar a circulação do crédito. As medidas de urgência já foram tomadas ou estão sendo preparadas. Segundo, dar sustentação aos mais vulneráveis. Uma série de medidas estão ao alcance das mãos, da proteção às aposentadorias ao seguro desemprego, passando pela ajuda às PME (Pequenas e Médias Empresas), que persevera sendo o primeiro nicho de emprego. Terceiro, políticas públicas eficazes e uma regulação inteligente, que recompense o trabalho e a empresa. Nós estamos sofrendo os espamos de um sistema financeiro que perdeu o rumo no plano ético.
Devemos retomar a função primeira e legítima da finança, que é promover a economia real, emprestar aos empreendedores que investem, inovam, criam empregos, produzem. Retomemos o papel primeiro dos mercados financeiros: lubrificar a engrenagem da economia real.
Enfim, e isso é crucial, devemos relevar os desafios fundamentais subjacentes. Muito antes da crise financeira atual, nós já estávamos em crise. Uma crise marcada por uma pobreza maciça em escala mundial, de desigualdades sociais crescentes, de uma informalidade e de um trabalho precário em pleno avanço. Uma crise da globalização que trouxe benefícios consideráveis, mas que, para muitos, é desequilibrada, injusta e não-durável.
É urgente reencontrar um equilíbrio. Este passa pela sustentação das pessoas e da produção. É preciso salvar a economia real. Lembremo-nos de que as pessoas julgam sua vida e seu amanhã em função do seu percurso no trabalho. Mais do que nunca, devemos lutar para que as políticas públicas e os serviços sociais necessários estejam à altura da principal preocupação das pessoas: uma oportunidade justa de ter um trabalho decente.
Para manter abertas as economias e as sociedades, as organizações internacionais responsáveis devem se reunir em torno de um quadro multilateral para uma mundialização justa e duradoura. As negociações comerciais estão em pane; os mercados financeiros vacilam e estão à beira do colapso; a mudança climática está ocorrendo; toda refundação deverá encontrar um método para integrar as políticas financeira e econômica, social e ambiental no âmbito global. A crise das subprimes não será resolvida com políticas tímidas. O tempo é de audácia, de pensamento e ação inovadores, para responder aos imensos desafios que estão postos diante de nós.
* Juan Somavia é diretor geral da OIT (artigo publicado originalmente no jornal Le Monde, em 27 de outubro de 2008)
Tradução: Katarina Peixoto
fonte:www.cartamaior.com.br
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