Sociologia
11/03/2010
Organizações chilenas constituem rede de solidariedade
Por Natasha PittsAnte as devastadoras sequelas do terremoto de 8,8 graus na escala Richter, que arrasou o Centro-Sul do Chile em 27 de fevereiro, e para fazer frente à tardia e desorganizada ajuda do Governo, cerca de 12 organizações sociais e populares chilenas organizaram uma rede solidária para trabalhar pela reconstrução do país.
Rede de solidariedade pretende, inicialmente, traçar um perfil do país e avaliar a situação em que ele se encontra. A partir disso, atuará pela reconstrução, resgate, recuperação e fortalecimento de valores que levem a população a promover a reconstituição do país e atuar como "um povo organizado que enfrenta de maneira efetiva e digna a tragédia atual".
As organizações decidiram pela constituição de rede, após terem constato a atuação falha do governo chileno antes e depois da tragédia que afetou, sobretudo, as regiões de Maule e Bio-Bio. "Os efeitos da tragédia se agravaram mortalmente devido a que a informação chave e certeira sobre o terremoto não foi adequadamente compartilhada pela Armada com as autoridades pertinentes do governo que poderiam ter evitado centenas de perdas de vidas humanas", denunciam em declaração pública.
Há um consenso de que após os tremores as medidas emergenciais também foram conduzidas de modo errado e chegaram tardiamente ou para alguns não chegaram. A avaliação das organizações é que isso se deu por "consequência direta de formas de organização centralizada e autoritária que deixam os setores sociais sem iniciativas e sujeitos ao assistencialismo, com práticas e formas de convivência social baseadas na repressão às organizações e ao debate político, que fomentam o individualismo e a falta de solidariedade".
Apesar de ser visível no país um sofrimento generalizado, foi a população empobrecida a mais afetada. Chilenos e chilenas que já viviam em condições financeiras delicadas, hoje estão expostos à miséria e a um futuro de insegurança. É em especial por esta parcela da população que a rede de solidariedade pretende trabalhar. A reconstrução visará erguer um novo Chile com valores e consciência política e social.
Para que as transformações aconteçam efetivamente, as organizações sociais e populares das regiões afetadas precisarão articular esforços e gerenciar as ações de curto, médio e longo prazo. A sociedade chilena será uma das principais aliadas desse processo, especialmente para fiscalizar e impedir que a reconstrução se converta em negócio para as grandes empresas ou em oportunidade para que políticos façam politicagens ou proponham trocas de benefícios aos setores sociais e populares.
A rede de solidariedade também pede o auxílio e apoio da comunidade internacional, de organizações e movimentos sociais para que juntos possam tornar a reconstrução das áreas mais afetadas uma realidade próxima e palpável. O exército nacional também terá papel fundamental e por isso é chamado a dar apoio abrindo mão de qualquer tipo de repressão contra a população chilena.
"Conscientes de que a reconstrução do tecido social é nosso verdadeiro norte, e que a solidariedade é mais que uma doação, com nossos esforços e nossas mãos, nossas consciências e convicções, com autonomia e fraternidade, estamos convencidos que como povo somos capazes não de reconstruir o país, mas também de construir um verdadeiramente justo, democrático e solidário.
Este conteúdo foi publicado em 10/03/2010 no sítio Adital . Todas as modificações posteriores são de responsabilidade do autor original da matéria