Sociologia
14/06/2010
Crise na Grécia
"As conseqüências são previsíveis. Espera-se o maior esgarçamento do tecido social (via, por exemplo, contração do grau de universalização dos direitos sociais e econômicos), piora nas condições de trabalho, maior exploração do trabalhador, concentração da riqueza e da renda e crescente tensão nas relações, processos e estruturas políticas", afirma Reinaldo Gonçalves*, em entrevista concedida à IHU On-Line, por email.
Segundo ele, " a Grécia é um "vagão de 3ª classe" no cenário internacional. Se este país não estivesse na zona do euro, a crise grega não teria um milésimo da repercussão que tem tido. Insisto que não há uma crise na zona do euro". "O que ocorre na Grécia atualmente -continua- é um fenômeno bastante conhecido no Brasil e no restante da América Latina. Ou seja, houve aumento extraordinário do passivo externo que levou a percepção de risco a níveis críticos. Nenhuma novidade para nós, inclusive no passado recente!"
E Reinaldo Gonçalves alerta: "Parte da crise da Grécia é explicada pelos gastos extraordinários provocados pelas Olimpíadas em Atenas em 2004. Em sociedades com frágil institucionalidade, mega-projetos são o fértil campo de cultivo de práticas de corrupção e da incompetência". Tendo em vista a realização da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, "há alta probabilidade que o Brasil cometa os mesmos erros dos gregos (endividamento interno e, principalmente, externo) que quebrarão as finanças públicas e o sistema financeiro brasileiro no pós 2014-16! Fica o alerta porque a conseqüência é o país entrar em mais uma longa trajetória de instabilidade e crise", afirma.
O economista conclui a entrevista com uma descrição do que é ser esquerda no momento atual.
*Reinaldo Gonçalves é professor titular de Economia Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Entre outros, ele é autor (em co-autoria com Luiz Filgueiras) do livro "A Economia Política do Governo Lula". Rio de Janeiro: Editora Contraponto, 2007.
Confira a entrevista.
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