Disciplina - Sociologia

Sociologia

24/08/2010

Olhar sociológico sobre a infância

Desenho de três criançasOs resultados conseguidos até agora por esse esforço coletivo de pesquisa estão reunidos no livro O plural da infância: aportes da sociologia, organizado por Anete Abramowicz e Andrea Braga Moruzzi e lançado recentemente pela EdUFSCar. Andrea é doutoranda orientada por Anete, professora do Departamento de Metodologia de Ensino da UFSCar.
De acordo com Anete, a infância, em especial na faixa de zero a seis anos, sempre foi tema estudado de forma abundante pela psicologia. Mas, até a década de 1980, a sociologia pouco havia produzido sobre o assunto."Quando estudava a criança, fazia isso por meio de suas 'instituições zeladoras', como a família ou a escola. A criança, para além de seu métier como aluno, nasce nessa trajetória", disse à Agência FAPESP.
A partir de 1980 – e com mais intensidade na década de 1990 –, a sociologia da infância começou a se tornar um campo do conhecimento.
“Os sociólogos haviam abandonado a criança, mas nos últimos anos esse panorama foi sendo transformado e o nosso grupo na UFSCar tem trabalhado intensamente com o tema. O livro discute as múltiplas possibilidades da sociologia quando toma a criança pequena como foco”, afirmou Anete.
Do ponto de vista da sociologia da infância, as crianças são entendidas como atores sociais e como sujeitos dos seus processos de socialização, produtoras da diferença e da pluralidade.
“O livro procura introduzir os aportes teóricos desse campo, valorizando a afirmação das crianças como categoria social que deve ser entendida no plural, já que as experiências de infância são infinitas”, disse.
A obra, que reúne artigos de diversos autores ligados ao grupo da UFSCar, destaca os temas fundamentais desse campo emergente do conhecimento e indica o que a sociologia tem a dizer sobre a criança e a infância. “Essa área tem como temas de destaque a cultura da infância, o trabalho infantil, a sexualidade infantil e a construção da institucionalização da criança, por exemplo”, explicou Anete.
A partir de autores pós-estruturalistas e pós-colonialistas, o grupo também trabalhou o pensamento sobre a criança em relação a temas como gênero, raça e etnia. “O livro é produto de um longo trabalho de pesquisa, em um esforço coletivo dedicado a organizar essa temática”, disse a pesquisadora, que concluiu em 2010 um pós-doutorado sobre sociologia da infância na Universidade Paris-Descartes, na França.
O objetivo do grupo é contribuir para o debate sobre o que significa uma sociologia da infância brasileira. “Estamos construindo essa genealogia, identificando como se constrói”, disse.
Anete coordena o projeto de pesquisa “Educação e Sociologia da Infância no Brasil: uma genealogia em construção”, apoiado pela FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.
Cultura infantil
Embora tenha se consolidado como campo de pesquisa apenas na década de 1980, na França, o termo sociologia da infância já havia sido cunhado em 1937, em um texto do sociólogo e antropólogo francês Marcel Mauss (1872-1950).
No Brasil, o marco inaugural da sociologia da infância, de acordo com Anete, é o texto As trocinhas do Bom Retiro, do sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995), publicado no livro Folclore e mudança social na cidade de São Paulo, de 1961.
“Naquele texto, Florestan usou pela primeira vez o termo ‘cultura infantil’. É esse o marco inicial da sociologia da infância brasileira. É a partir daí que vamos traçar o percurso dos autores que trataram do tema, construindo a genealogia desse campo do conhecimento”, disse Anete.
O título do livro lançado agora, segundo ela, reflete a preocupação em evidenciar a existência de diversas infâncias distintas sob o ponto de vista sociológico. “Tratamos desde a infância no Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, até a infância indígena observada do ponto de vista da sociologia”, apontou.
A publicação é voltada em especial para estudantes de graduação e de pós-graduação, além de professores que pretendem trabalhar com a sociologia da infância.
“É provavelmente a primeira vez que se reúne um conteúdo sobre sociologia da infância organizado com um viés didático. Esperamos que essa característica possa ajudar a multiplicar os estudos sobre o tema que são feitos em diversos centros no Brasil”, disse Anete.
* Título: O plural da infância: aportes da sociologia;   Organização: Anete Abramowicz e Andrea Braga Moruzzi;  Lançamento: 2010; Preço: R$ 21; Páginas: 118; Mais informações: editora.ufscar.br

Esta notícia foi publicada em 24/08/2010 no sítio da agencia.fapesp.br. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
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