Sociologia
18/01/2011
China quer erradicar escravidão moderna
Por Mitch Moxley, da IPSNo mês passado, a polícia prendeu Li Xinglin, chefe de uma fábrica de materiais para construção na Região Autônoma de Xinjiang Uighur. Ele havia tentado fugir depois que a imprensa estatal expôs as condições de trabalho no lugar, segundo informou a agência de notícias Xinhua.
As notícias indicam que pelo menos uma dezena de trabalhadores, oito deles com problemas mentais, foram vendidos à fábrica e trabalhavam sem receber nenhum pagamento. As autoridades disseram que os trabalhadores não contavam com nenhuma proteção no inverno, quando outras indústrias suspenderam suas operações, e recebiam a mesma comida que o chefe da fábrica dava ao seu cachorro. Alguns estiveram escravizados por quatro anos.
O filho de Li Xinglin, Li Chenglong, também foi preso em Chengdu, capital da província de Sichuan. Ele havia fugido levando outros 12 trabalhadores com problemas mentais, que foram resgatados e colocados sob custódia do governo. Neste mês, mais três pessoas foram detidas com ligação ao caso, segundo noticiários oficiais. Zeng Lingquan e sua mulher administravam um abrigo para mendigos na região de Quxian, em Sichuan, e supostamente vendiam deficientes para fábricas desde 1993. Autoridades vinculadas ao caso perderam seus cargos.
Zeng, agricultor que integrou a Federação de Indústria e Comércio de Quxian, vendeu vários trabalhadores para a Fábrica de Materiais Químicos para Construção Jiaersi Green, de Xinjiang, e recebeu os salários que supostamente eles ganhariam. Funcionários do governo disseram que o abrigo de Zeng era o primeiro elo da cadeia de tráfico de pessoas. Histórias de escravidão moderna ocupam regularmente o noticiário na China, que no ano passado superou o Japão como segunda economia mundial, atrás dos Estados Unidos.
Embora as condições de trabalho e os salários, no geral, tenham melhorado nas fábricas em todo o país graças ao crescimento econômico, especialistas dizem que a escravidão de crianças e adultos com problemas mentais é uma questão persistente. Em maio de 2009, a polícia da província de Anhui prendeu dez homens acusados de escravizar mais de 30 deficientes mentais, vários deles crianças, que eram obrigados a trabalhar com fornos de tijolos. Houve notícias sobre casos de escravidão em dez províncias desde 2007, segundo a Associação de Pessoas Portadoras de Problemas Mentais, e também 20 casos de escravos que morreram.
Meng Weina, fundador da Comunidade Huiling de Serviços para a População com Dificuldades de Aprendizagem, disse que as pessoas com problemas mentais são especialmente vulneráveis na China, onde a rede de assistência social é pequena e a atenção, em geral, recai sobre as famílias. Quando os pais morrem, muitas não têm quem cuide delas. Em áreas rurais, onde vivem 70% das pessoas com limitações intelectuais, praticamente não há organizações que ofereçam apoio. “Vimos muitos casos de sequestro, mas quando são denunciados ninguém se importa”, contou Meng à IPS.
Liu Kaiming, que pesquisa sobre relações trabalhistas e é diretor-executivo do Instituto de Observação Contemporânea, com sede em Shenzhen, disse que as principais causas do problema são as imperfeitas redes sociais, as leis inadequadas e a falta de regulações para proteger as pessoas com limitações intelectuais. Também destacou que é necessária uma política mais firme contra os funcionários envolvidos. “Não creio que o governo central e os locais estejam fazendo algo para proteger os trabalhadores com problemas mentais”, disse Liu à IPS.
Esta reportagem foi publicada no dia 17/01/2011 no sítio envolverde.com.br. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.