Sociologia
28/11/2011
No extremo da riqueza e da pobreza
Três mil e quinhentos reais separam o bairro de Curitiba com a renda média mensal per capita mais alta da cidade do bairro com a menor renda. Enquanto a Caximba registra R$ 559, o Batel apresenta média de R$ 4.146, segundo dados do Censo 2010. A comparação de rendimentos ilustra mais do que a diferença entre um bairro pobre localizado no extremo sul da cidade e um vizinho da região central. A distância é fruto de uma dinâmica natural do crescimento de grandes cidades, porém, também reflete aspectos inerentes ao desenvolvimento do município, como o crescimento induzido pelo planejamento que concentrou a população de baixa renda em bairros distantes do Centro, especialmente na Região Sul.Observar a cidade pelas graduações de renda mostra como Curitiba se desenvolveu. Os bairros periféricos (do Sul, Leste, Oeste e Norte) apresentam menor rendimento, enquanto, a partir do Centro, é possível vislumbrar crescimento espelhado para o Nordeste e Sudoeste. As razões são simples: nas regiões mais desenvolvidas há equipamentos urbanos – hospitais, escolas e comércios. Além disso, elas são atravessadas pelo ônibus expresso no eixo Norte-Sul, fator de consolidação da região.
Coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Carlos Hardt observa a influência do planejamento municipal. “Quando há grandes empreendimentos de baixa renda em uma região, a média do bairro é afetada. O Sul e o Sudeste têm grandes quantidades desses conjuntos habitacionais”, explica. Os pontos isolados ao Norte, por outro lado, se aproximam da realidade do município vizinho, Almirante Tamandaré, esclarece Olga Firkowski, professora do departamento de Geografia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenadora do Núcleo Curitiba do Observatório das Metrópoles.
Cidade ideal
Na avaliação de Olga, os eixos dos expressos induziram o crescimento dos bairros localizados a Nordeste e a Sudoeste do Centro. “No Portão e no Bigorrilho, os comércios e serviços estão no térreo e na sobreloja dos edifícios. O planejamento urbano foi seletivo e induziu essa formação”, afirma. Contudo, a cidade ideal não deve conter diferenças consideráveis entre alta e baixa renda. A solução, portanto, seria o município instalar equipamentos urbanos nas áreas periféricas para atrair interesse. “Isso traz ganhos para a região e os proprietários têm imóveis valorizados”, afirma Hardt.
Os dados de renda do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – referentes ao rendimento médio de pessoas com 10 anos ou mais – são usados pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) para acompanhar o desenvolvimento do município. Supervisor de Informações do Ippuc, Lourival Peyerl afirma que a localização de bolsões com menor renda em regiões periféricas não foi somente induzida pelo município, pois faz parte de uma dinâmica natural. Mesmo assim, o investimento nas áreas é apontado como solução. “Queremos aumentar o padrão de quem vive nas regiões mais pobres. Por isso, estamos investindo para permitir que comércios se instalem nelas”, diz.
Embora a administração municipal não possa obrigar o empresário a se instalar em determinada região, os equipamentos urbanos e serviços tornam o negócio mais viável. “Desde que o zoneamento permita, quem toma a decisão de criar algo é o comerciante. Ele precisa perceber que há demanda”, afirma Hardt.