Sociologia
13/02/2012
Entrevista: Roberto DaMatta relembra sua trajetória na Antropologia
Atualmente professor emérito da Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos, e professor do Departamento de Sociologia e Política da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), o antropólogo vive no momento para “ler, estudar, escrever, estar com os amigos e criar os netos”. Aproveitando que a cultura brasileira é tema da nova série da Rede Globo, As Brasileiras, republicamos a entrevista concedida por DaMatta ao Globo Universidade em 2009.Globo Universidade – Você é niteroiense, do Estado do Rio de Janeiro. Como aconteceu essa trajetória da — não faz tanto tempo assim — capital fluminense para as grandes universidades do mundo?
Roberto DaMatta – Estudei em Niterói, no bairro de Maceió, mas também nas cidades mineiras de São João Nepomuceno e Juiz de Fora. Em seguida, voltei à então capital e terminei minha formação secundária e universitária, seguindo para uma pós-graduação no Museu Nacional (da Universidade do Brasil, hoje a Federal do Rio de Janeiro), onde iniciei meus estudos de pós-graduação e me profissionalizei. Depois, fui para Harvard e fiz meu mestrado e doutoramento em Antropologia Social no início dos anos 1970.
GU – Como ocorreu essa passagem da História, em que se graduou pela UFF em 1962, para a Antropologia, em que se especializou e para a qual se dedica até hoje?
RDM – Sempre me interessei por muita coisa ao mesmo tempo. Queria ser cantor, pintor, arquiteto, escritor... No momento do vestibular, vi que o melhor seria estudar História e, durante o curso, Castro Faria, um professor que era do Museu Nacional, abriu-me as portas de um estágio na Quinta da Boa Vista (no Rio de Janeiro, onde fica o museu) e eu comecei minha carreira. Hoje, penso que estou mais para uma Literatura Antropológica que para a Antropologia Social.
GU – Seu doutorado em Harvard termina em 1971, e um dos seus mais famosos livros, Carnavais, malandros e heróis, é de 1979. A experiência no exterior foi importante para sua interpretação do Brasil?
RDM – A experiência de vida nas aldeias indígenas do Brasil central e na grande aldeia harvardiana, nos Estados Unidos, foi fundamental. Nas primeiras, eu aprendi a considerar o valor dos símbolos, mais do que das utilidades, como elementos básicos da vida social; na segunda, aprendi o valor da igualdade como prática social. Ao voltar ao Brasil, entendi que poderia usar a experiência antropológica plasmada no estruturalismo levistraussiano e dumonciano (relativo aos antropólogos franceses Claude Lévi-Strauss e Louis Dumont) para estudar nosso país por meio do carnaval, do “você sabe com quem está falando?” e de seus personagens malandros e santos.
GU – Por que a obra Carnavais parece tão atual ainda hoje?
RDM – Porque o livro tem sido mais bem compreendido agora do que quando foi publicado. Naquele momento, foi tachado por muitos como reacionário por não citar Marx, não falar em luta de classes, não estudar camponeses ou operários e, pelo contrário, falar deles como carnavalescos e religiosos. Eu falava do carnaval como ritual, de messianismos como movimentos de renúncia do mundo; citava como inspiração principal o comparativismo de Tocqueville (que ninguém conhecia no Brasil); e analisava o país sem dar receitas sobre como ele deveria ser. Isso, junto a uma linguagem clara, que até hoje atrai o leitor.
GU – Você costuma trabalhar com frequência no exterior. Ainda pretende tocar projetos em outros países?
RDM – Voltei definitivamente ao Brasil em 2004. Fui admitido na PUC-Rio e estou feliz. Não pretendo voltar para nenhum outro país. Sou um ex-professor de Notre Dame e tenho muito gosto em ser professor da Universidade Católica.
GU – Suas atividades envolvem a docência, conferências, produção de televisão, colunas de jornal, entre outras. A que tem se dedicado atualmente?RDM – Porque o livro tem sido mais bem compreendido agora do que quando foi publicado. Naquele momento, foi tachado por muitos como reacionário por não citar Marx, não falar em luta de classes, não estudar camponeses ou operários e, pelo contrário, falar deles como carnavalescos e religiosos. Eu falava do carnaval como ritual, de messianismos como movimentos de renúncia do mundo; citava como inspiração principal o comparativismo de Tocqueville (que ninguém conhecia no Brasil); e analisava o país sem dar receitas sobre como ele deveria ser. Isso, junto a uma linguagem clara, que até hoje atrai o leitor.
GU – Você costuma trabalhar com frequência no exterior. Ainda pretende tocar projetos em outros países?
RDM – Voltei definitivamente ao Brasil em 2004. Fui admitido na PUC-Rio e estou feliz. Não pretendo voltar para nenhum outro país. Sou um ex-professor de Notre Dame e tenho muito gosto em ser professor da Universidade Católica.
RDM – Vivo para ler, estudar, escrever, criar meus netos, ser amigo dos meus filhos e amigos e dar aulas.
Esta reportagem foi publicada em 31/01/2012 no sítio do redeglobo.globo.com/globouniversidade/ .Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.