Disciplina - Sociologia

Sociologia

22/10/2007

'Pai' do DNA choca geneticistas

James Watson diz que negros são menos inteligentes e reabre debate superado.
Ganhador de um prêmio Nobel por sua participação na revelação da estrutura do DNA, James Watson causou espanto ao reacender com força total uma polêmica que parecia definitivamente superada pelos próprios geneticistas.
Em entrevista ao “Times”, o homem apontado como um dos maiores cientistas do século XX afirmou que os negros são menos inteligentes que os brancos. E foi além. Segundo ele, a idéia de igualdade entre os grupos raciais é ilusória.
O geneticista de 79 anos reabriu o explosivo debate sobre raça e ciência no jornal britânico, ao dizer que as políticas ocidentais para os países africanos eram, erroneamente, baseadas na presunção de que os negros seriam tão inteligentes quanto os brancos quando, na verdade “testes” sugerem o contrário. Watson não apresentou argumentos científicos para embasar suas idéias nem especificou que “testes” seriam esses.
Afirmou apenas que os genes responsáveis pelas diferenças na inteligência humana devem ser descobertos dentro de dez a 15 anos.
Os estudos genéticos realizados nos últimos anos são praticamente unânimes ao afirmar que é impossível sequer usar o termo raça porque, do ponto de vista genético, todos os seres humanos são absolutamente iguais, independentemente de seu fenótipo.
Ainda assim, Watson disse que era pessimista sobre as perspectivas para a África “porque todas as políticas sociais são baseadas no fato de que a inteligência deles é como a nossa, embora todos os testes digam que não é bem assim”.
E foi mais longe ainda ao dizer que existe um desejo natural de que todos os homens deveriam ser iguais, mas “as pessoas que lidam com empregados negros descobrem que isso não é verdade”. A recémcriada Comissão de Igualdade e Direitos Humanos do Reino Unido afirmou estar analisando os comentários de Watson profundamente.
Evolução pode ter sido diferente, diz
As opiniões de Watson também aparecem em seu novo livro, que está sendo lançado esta semana, “Avoid boring people: lessons from a life in science” (algo como “evite entediar as pessoas: lições de uma vida na ciência”): “Não há nenhuma razão sólida para sustentar que as capacidades intelectuais de pessoas geograficamente separadas durante sua evolução tenham se desenvolvido de forma idêntica. Nossa vontade de preservar os poderes igualitários da razão como uma espécie de herança universal da Humanidade não é o suficiente para fazer com que isso ocorra.”
A polêmica ecoa o debate criado nos anos 90 pelo livro “A curva do sino”, do cientista social americano Charles Murray, que sugeria que diferenças de QI seriam genéticas e discutia as implicações de uma divisão racial da inteligência. O livro foi duramente criticado no mundo todo, particularmente por cientistas que o classificaram de racista.
Watson chegou ontem ao Reino Unido, onde fará uma série de palestras sobre o seu novo livro. A primeira delas está marcada para amanhã no Museu da Ciência e todos os lugares disponíveis já estão reservados. Um intenso debate é esperado uma vez que os críticos do geneticista afirmaram estar preparando uma resposta de peso a suas polêmicas opiniões.
“Não há razão sólida a sustentar que as capacidades intelectuais de pessoas geograficamente separadas durante sua evolução tenham se desenvolvido de forma idêntica”
Tão brilhante quanto polêmico
Mesmo sendo considerado um dos grandes cientistas do nosso tempo graças à sua participação nas pesquisas que decifraram a estrutura do DNA, o americano James Watson esteve muitas vezes envolvido em polêmicas sobre mulheres, homossexuais e diferenças raciais.
Watson trabalhou na Universidade de Cambridge entre as décadas de 50 e 60. Ao lado de Francis Crick e Maurice Wilkins, ele ganhou o Nobel de Medicina de 1962 pelo trabalho que revelou a estrutura de dupla hélice do DNA. Durante mais de 50 anos, foi diretor de um dos principais laboratórios do mundo na pesquisa sobre o câncer e genética, o Cold Spring Harbour, em Long Island.
Em 1997, declarou que mulheres deveriam ter direito ao aborto caso soubessem que seu filho seria homossexual. Watson já sugeriu uma ligação entre o tom da pele e o apetite sexual, reforçando a controvertida tese de que os negros têm mais libido. E disse acreditar que, graças à evolução da genética, a “estupidez” poderia ser curada. Segundo ele, a beleza também poderia ser geneticamente programada no futuro: “Dizem que seria terrível se todas as mulheres fossem lindas. Eu acho que seria maravilhoso.”
(O Globo, 18/10)
Fonte: Jornal da Ciência, 18 de outubro de 2007
Recomendar esta notícia via e-mail:

Campos com (*) são obrigatórios.