Disciplina - Sociologia

Sociologia

17/10/2013

Moda e identidade

Moda exerce papel essencial na formação da identidade


Por Ana Paula Souza
/Agência USP

A escolha de uma roupa traz consigo inúmeros significados psicológicos, sociais e culturais, de forma que a moda, considerada por muitos como algo fútil, é, na verdade, uma peça chave para a construção e compreensão da personalidade. Sua influência vai além do vestuário, estando estreitamente relacionada às noções de identidade, pertencimento e diferenciação, como mostra Talita Souza na dissertação de mestrado Moda: um fator social, apresentada na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP .

O estudo, desenvolvido entre os anos de 2011 e 2013, procurou destacar a importância da moda na análise das dinâmicas sociais. “Pretendia levantar a discussão de que a moda realmente se apresenta como uma ciência e não como uma superficialidade”, explica Talita. A partir da leitura de diversos teóricos que estudam as mais variadas vertentes existentes entre a moda e a sociedade, entre os quais Roland Barthes, Gilles Lipovetsky, Frédéric Godart e Lars Svendsen, a pesquisa também apresentou a moda como um importante meio de comunicação, uma vez que é a partir do visual que as pessoas formam as suas primeiras impressões sobre as outras.

A dissertação de Talita está inserida em um contexto recente de pesquisas sobre o assunto, fenômeno conhecido como modalogia, no qual vários estudiosos vêm empreendendo análises sobre a temática, despertados para o fato de pensar o vestuário como um importante ramo do conhecimento para que entendamos quem somos. Nessa definição da individualidade, a moda atua não apenas na demarcação do gênero, na distinção clara entre o vestuário tido como feminino ou masculino, mas se insere também na demarcação dos grupos sociais aos quais cada pessoa pertence, por promover a atribuição de fortes significados culturais aos elementos que compõem a indumentária ou estilo de comportamento. O uso do jeans rasgado, dos alfinetes e de jaquetas com spikes, por exemplo, identificam aqueles que os utilizam como pertencentes ao estilo punk, o qual é acompanhado de perto pelo posicionamento político predominantemente anárquico.

Instrumento de inserção
Ainda no âmbito da construção da identidade, analisando-o sob o viés psicológico e tendo como base a teoria freudiana, a autora afirma que a moda é fundamental nos passos iniciais de cada um, visto que a roupa funciona como um instrumento de inserção da criança no contexto social. Segundo a pesquisadora, a roupa escolhida pela mãe para vestir seu filho demonstra a impressão que ela deseja que os outros tenham em relação a ele. Mais tarde, conforme vai crescendo, a criança passa a vestir roupas que são semelhantes às usadas pelos adultos, em uma tentativa de serem introduzidas, aos poucos, no mundo dos maiores.

O estudo também recorreu à história para mostrar que a moda vai muito além do simples ato de usar uma roupa. No Renascimento, por exemplo, houve o ressurgimento do antropocentrismo, de modo que as preocupações relacionadas ao homem e sua individualidade passaram a ser a tônica das obras da época. As roupas acompanharam esse processo, uma vez que passaram a ter um apelo mais estético, procurando valorizar aquele que as vestia.

Entre os resultados da pesquisa, também estão o aspecto comunicativo da moda, o qual passou a ter mais impacto na contemporaneidade, em função do apelo midiático, e está diretamente ligado ao processo de imitação e diferenciação. “As pessoas passaram a se vestir de maneira similar aos astros e estrelas de novelas, seriados e filmes, procurando informar um status e a qual grupo social pertencem ou pretendem pertencer”.

Apesar das inúmeras pesquisas que foram elaboradas nos últimos anos, este é apenas o começo da discussão em torno do papel da moda na construção da identidade. “Este assunto é, de certa forma, interminável, uma vez que as transformações e interações sociais não cessam. Da mesma maneira, a moda, enquanto sistema, é totalmente transitória e alterável, sendo assim continuaremos a discutir por muito tempo todas estas temáticas”.

Esta reportagem foi publicada no dia 15 de outubro de 2013 no site http://www.usp.br. Todas as informações são de responsabilidade do autor.
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