Disciplina - Sociologia

Sociologia

18/02/2014

De Médici para Marighella

‘Diário Oficial’ da Bahia: colégio Médici vira colégio Marighella


Por Mário Magalhães/UOL

O governo da Bahia encerrou as especulações sobre uma possível recusa da mudança de nome e publicou no “Diário Oficial'' do Estado a nova denominação do antigo Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici. A instituição de ensino fundamental, médio e profissional passa a se chamar Colégio Estadual do Stiep Carlos Marighella (Stiep é o bairro soteropolitano onde o estabelecimento se localiza).

A troca foi sacramentada em portaria do secretário da Educação, Osvaldo Barreto Filho, veiculada na sexta-feira.

O general gaúcho Médici (1905-85) governou o Brasil de 1969 a 74, período mas repressivo da ditadura instaurada em 64. Em seu governo, ao menos 29 agentes de segurança mataram o guerrilheiro baiano Marighella (1911-69), que estava desarmado ao ser surpreendido e fuzilado numa rua paulistana.

O pedido para a substituição do nome ocorreu em dezembro, quando houve uma eleição da qual participaram professores, funcionários, estudantes e pais de alunos. O nome de Marighella recebeu 406 votos, o equivalente a 69% dos sufrágios. O do geógrafo baiano Milton Santos (1926-2001), 128. Perseguido pela ditadura, o célebre cientista teve de passar cerca de uma década no exílio, inclusive durante a administração Médici. Não houve sugestão na escola para que o nome do antigo ditador fosse incluído na cédula. Os votos nulos somaram 25, e os brancos, 27.

A proposta de mudança, ideia antiga de segmentos da comunidade escolar, prosperou depois que alunos da professora de sociologia Maria Carmen organizaram a exposição batizada “A vida em preto e branco: Carlos Marighella e a ditadura militar”.

O colégio foi inaugurado e batizado em 1972, quando Médici era o ditador. O general não recebera um só voto popular para assumir a presidência da República. A ditadura tinha acabado com as diretas para o Planalto.

Filho de um operário italiano e de uma negra filha de escravos, o mulato Carlos Marighella tornou-se famoso na Bahia aos 17 anos, ao responder em versos rimados a uma prova de física. Militou por 33 anos (1934-67) no Partido Comunista. Integrou a Assembleia Constituinte de 1946, na qual defendeu, sem sucesso, propostas como o direito ao divórcio e a adoção do 13º salário. Deputado federal, teve o mandato cassado em 1948, por perseguição política. Comandou uma das greves mais rumorosas do século XX no país, a Greve dos 300 Mil, março-abril de 1953, em São Paulo. Desarmado, foi baleado e preso num cinema carioca em maio de 1964, semanas depois do golpe de Estado que depôs o presidente constitucional João Goulart. Após romper com o PCB, Marighella foi um dos fundadores e dirigentes da maior organização armada de combate à ditadura, a ALN, Ação Libertadora Nacional. Em novembro de 1968, o governo declarou-o formalmente inimigo público número 1. Com o fim da ditadura, a União viria a reconhecer que Marighella poderia ter sido preso com vida em 1969 e apresentaria à sua família um “pedido oficial de desculpas''.

Só na rede pública brasileira de ensino básico, ainda há quase mil escolas com nomes de presidentes da ditadura 1964-85.


Esta noticia foi publicada no site http://www.uol.com.br em 17 de Fevereiro de 2014. Todas as informações nela contidas são de responsabilidade do autor.
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