Sociologia
10/12/2007
Exame revela "calamidade" em escolas públicas
A diretora da Faculdade de Educação da USP, Sonia Penin, afirma que o Pisa revela que a educação brasileira chegou à "calamidade".
Cinthia Rodrigues escreve para a “Folha de SP”:
- O que o Pisa mostra?
A calamidade da escola pública brasileira.
- A educação tem piorado?
Não dá para comparar a educação de hoje com a de antigamente. A escola pública brasileira dos anos 50 era só de uma camada muito restrita da elite brasileira. Depois, iniciou um movimento para atender todas as camadas socioeconômicas e culturais. Ainda não completou esse movimento, sobretudo no ensino médio, mas, de qualquer forma, houve um acolhimento significativo. O que se percebe é que a escola está com problemas para atender esta diversidade maior.
- Quais são os problemas mais comuns e graves?
Tem um problema que é objetivo: tempo de estudo, tempo de exposição à aprendizagem. Apesar da diferenciação muito grande de escola para escola, o tempo letivo de 4 horas, 5 horas nas melhores escolas, é muito pouco para a gente fazer páreo para esses países que estão à frente. Além disso, ainda ocorre que, nessas quatro horas, eles não têm aula. Por ausência do próprio aluno, por ausência do professor ou até por não existir professor.
- É o maior problema?
Esse é o fator mais claro. Depois, falta valorização e capacitação dos professores. A questão salarial é fundamental, mas não é só isso. Hoje precisa de capacitação dentro da escola para professores, diretores e todos os envolvidos.
- E a infra-estrutura?
Os equipamentos são importantes, mas hoje muitas escolas estão equipadas e não vemos os reflexos. Há muitos laboratórios de ciências que não são usados. O que falta é o uso dos recursos, ou seja, professores preparados.
- Qual a responsabilidade dos pais?
Muito grande. Pesquisas mostram que escolas com participação dos pais têm melhores resultados. Nos anos 50, quando só a elite estudava, os pais eram alfabetizados, tinham livros em casa. Se um filho não ia bem, recebia reforço escolar no tempo livre. Hoje muitos pais não têm conhecimento para ajudar os filhos.
- Qual a ligação dos resultados com a transferência de estudantes de classes elevadas para instituições particulares e a conseqüente redução na cobrança por escolas públicas de qualidade?
Não dá para culpar as pessoas por colocarem os filhos em uma escola ou outra. Isto é um país democrático. Temos que pensar nas questões que podem ser trabalhadas. É o aumento do tempo na escola e o investimento em professor. Disso que temos de falar.
- A sra. tem ressalvas em relação ao Pisa?
Sempre cabe uma análise da avaliação. Pode ser que as questões pedidas, por exemplo, tenham mais afinidade com as preocupações de um determinado país. Uma outra questão é que esse exame pega alunos por idade. Muitas vezes, nossos alunos de 15 anos estão abaixo da série em que deviam estar, por conta de repetência. Essa seria uma questão pela qual poderíamos dar um desconto a nosso favor. Ou melhor, por nosso prejuízo.
(Folha de SP, 5/12)
Fonte: Jornal da Ciência, SBPC, 07 de dezembro de 2007
Cinthia Rodrigues escreve para a “Folha de SP”:
- O que o Pisa mostra?
A calamidade da escola pública brasileira.
- A educação tem piorado?
Não dá para comparar a educação de hoje com a de antigamente. A escola pública brasileira dos anos 50 era só de uma camada muito restrita da elite brasileira. Depois, iniciou um movimento para atender todas as camadas socioeconômicas e culturais. Ainda não completou esse movimento, sobretudo no ensino médio, mas, de qualquer forma, houve um acolhimento significativo. O que se percebe é que a escola está com problemas para atender esta diversidade maior.
- Quais são os problemas mais comuns e graves?
Tem um problema que é objetivo: tempo de estudo, tempo de exposição à aprendizagem. Apesar da diferenciação muito grande de escola para escola, o tempo letivo de 4 horas, 5 horas nas melhores escolas, é muito pouco para a gente fazer páreo para esses países que estão à frente. Além disso, ainda ocorre que, nessas quatro horas, eles não têm aula. Por ausência do próprio aluno, por ausência do professor ou até por não existir professor.
- É o maior problema?
Esse é o fator mais claro. Depois, falta valorização e capacitação dos professores. A questão salarial é fundamental, mas não é só isso. Hoje precisa de capacitação dentro da escola para professores, diretores e todos os envolvidos.
- E a infra-estrutura?
Os equipamentos são importantes, mas hoje muitas escolas estão equipadas e não vemos os reflexos. Há muitos laboratórios de ciências que não são usados. O que falta é o uso dos recursos, ou seja, professores preparados.
- Qual a responsabilidade dos pais?
Muito grande. Pesquisas mostram que escolas com participação dos pais têm melhores resultados. Nos anos 50, quando só a elite estudava, os pais eram alfabetizados, tinham livros em casa. Se um filho não ia bem, recebia reforço escolar no tempo livre. Hoje muitos pais não têm conhecimento para ajudar os filhos.
- Qual a ligação dos resultados com a transferência de estudantes de classes elevadas para instituições particulares e a conseqüente redução na cobrança por escolas públicas de qualidade?
Não dá para culpar as pessoas por colocarem os filhos em uma escola ou outra. Isto é um país democrático. Temos que pensar nas questões que podem ser trabalhadas. É o aumento do tempo na escola e o investimento em professor. Disso que temos de falar.
- A sra. tem ressalvas em relação ao Pisa?
Sempre cabe uma análise da avaliação. Pode ser que as questões pedidas, por exemplo, tenham mais afinidade com as preocupações de um determinado país. Uma outra questão é que esse exame pega alunos por idade. Muitas vezes, nossos alunos de 15 anos estão abaixo da série em que deviam estar, por conta de repetência. Essa seria uma questão pela qual poderíamos dar um desconto a nosso favor. Ou melhor, por nosso prejuízo.
(Folha de SP, 5/12)
Fonte: Jornal da Ciência, SBPC, 07 de dezembro de 2007