Sociologia
29/01/2008
Pesquisa indica que maconha compromete capacidade de solucionar problemas
Por Caroline Borja
De inofensiva, a maconha não tem nada. Associada à repetência e à evasão escolar, a droga pode comprometer a capacidade de solucionar problemas em adolescentes usuários. É o que concluiu uma pesquisa realizada por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul, segundo artigo publicado na revista científica Psicologia em Estudo.
Os pesquisadores utilizaram instrumentos para avaliar o desempenho de 60 adolescentes do sexo masculino, com idades entre 14 e 17 anos e níveis socioeconômicos equiparados, cuja escolaridade mínima era a 5a série do ensino fundamental. Metade desses jovens era usuária de maconha. Conforme o artigo, os usuários da droga tiveram um desempenho inferior em testes que avaliaram a percepção visual e sobretudo nos que analisaram a capacidade de solucionar problemas, sugerindo que a maconha pode afetar o funcionamento neuropsicológico.
O estudo constatou também que a maior parte dos usuários da droga possuía o ensino fundamental incompleto, seja por evasão escolar ou por diversas repetências, enquanto a maioria dos não usuários possuía o ensino fundamental completo e estava cursando o ensino médio. Os usuários analisados na pesquisa iniciaram o consumo por volta dos 13,5 anos de idade.
A maconha é a droga ilícita mais experimentada no Brasil e seu uso é freqüente entre os jovens, como confirmou o último Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil. Realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) em 2005, o documento estimou que o uso ocorre já em idades de 12 e 17 anos e atinge um pico para os dois sexos entre 18 a 24 anos.
E por que tantos jovens fazem uso da maconha? Para uma das autoras do estudo, a psicóloga clínica e psicanalista Maisa Rigoni, razões não faltam. Ela explica que o uso de maconha e de outras drogas está associado à busca do prazer que elas provocam ao ativar circuitos neurológicos. "Também há a identificação com os pares, na busca pela integração e aceitação social", diz Maisa.
A psicóloga diz ainda que alguns jovens se sentem onipotentes, isto é, "pensam que com eles nada acontecerá e que podem ter total domínio da situação", revela a pesquisadora. Por outro lado, ela considera que existe uma desinformação geral por parte da sociedade quanto aos efeitos da maconha e seus prejuízos, principalmente no que se refere às funções cognitivas - atenção, memória, concentração, percepção visual, etc. O trabalho menciona pesquisas que têm mostrado que o uso constante de maconha pode provocar déficits cognitivos em decorrência de alterações associadas ao córtex pré-frontal, em especial quando o uso se dá na adolescência.
Precisamos fazer a informação circular, diz Maisa. "Esta circulação precisa ser feita em massa, como por exemplo, as campanhas em relação ao HIV. É preciso que se mostrem os malefícios de maneira clara para a população em geral".
Segundo a psicóloga, pais ou responsáveis devem encaminhar os adolescentes usuários para tratamento e se mostrar dispostos a conversar sobre o problema. "Também podem procurar algum profissional para auxiliá-los a conversar com seus filhos", afirma Maisa. "Os pais ou responsáveis precisam estar atentos aos jovens, saberem onde estão, com quem, o que pensam a respeito das coisas, precisam estar abertos para escutar e não somente criticar".
A psicóloga se diz contrária à legalização da maconha. "Não é legalizando que se evitarão novos dependentes de maconha ou mesmo se fará com que os jovens parem de consumi-la", acredita. "O álcool está aí para comprovar que, mesmo sendo uma substância lícita, segue gerando dependentes, com conseqüentes prejuízos sociais, afetivos e funcionais, quadro este semelhante ao vivenciado por dependentes de maconha".
Porém, o debate sobre a legalização das drogas está longe de terminar. O advogado Francisco Alexandre de Paiva Forte, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), defende a legalização. Em artigo publicado na revista Estudos Avançados, Forte diz que tratar tanto o consumo de drogas quanto o comércio como crime em nada contribui para reduzir o consumo ou para criar um mundo livre de drogas. Entre seus argumentos, o advogado menciona as perdas humanas - de policiais, traficantes e viciados - provocadas pelo combate ao tráfico e o caos penitenciário que se agrava com as prisões superlotadas.
Fonte: Revista Eletrônica de Jornalismo Científico, SBPC, 25 de Janeiro de 2008
De inofensiva, a maconha não tem nada. Associada à repetência e à evasão escolar, a droga pode comprometer a capacidade de solucionar problemas em adolescentes usuários. É o que concluiu uma pesquisa realizada por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul, segundo artigo publicado na revista científica Psicologia em Estudo.
Os pesquisadores utilizaram instrumentos para avaliar o desempenho de 60 adolescentes do sexo masculino, com idades entre 14 e 17 anos e níveis socioeconômicos equiparados, cuja escolaridade mínima era a 5a série do ensino fundamental. Metade desses jovens era usuária de maconha. Conforme o artigo, os usuários da droga tiveram um desempenho inferior em testes que avaliaram a percepção visual e sobretudo nos que analisaram a capacidade de solucionar problemas, sugerindo que a maconha pode afetar o funcionamento neuropsicológico.
O estudo constatou também que a maior parte dos usuários da droga possuía o ensino fundamental incompleto, seja por evasão escolar ou por diversas repetências, enquanto a maioria dos não usuários possuía o ensino fundamental completo e estava cursando o ensino médio. Os usuários analisados na pesquisa iniciaram o consumo por volta dos 13,5 anos de idade.
A maconha é a droga ilícita mais experimentada no Brasil e seu uso é freqüente entre os jovens, como confirmou o último Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil. Realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) em 2005, o documento estimou que o uso ocorre já em idades de 12 e 17 anos e atinge um pico para os dois sexos entre 18 a 24 anos.
E por que tantos jovens fazem uso da maconha? Para uma das autoras do estudo, a psicóloga clínica e psicanalista Maisa Rigoni, razões não faltam. Ela explica que o uso de maconha e de outras drogas está associado à busca do prazer que elas provocam ao ativar circuitos neurológicos. "Também há a identificação com os pares, na busca pela integração e aceitação social", diz Maisa.
A psicóloga diz ainda que alguns jovens se sentem onipotentes, isto é, "pensam que com eles nada acontecerá e que podem ter total domínio da situação", revela a pesquisadora. Por outro lado, ela considera que existe uma desinformação geral por parte da sociedade quanto aos efeitos da maconha e seus prejuízos, principalmente no que se refere às funções cognitivas - atenção, memória, concentração, percepção visual, etc. O trabalho menciona pesquisas que têm mostrado que o uso constante de maconha pode provocar déficits cognitivos em decorrência de alterações associadas ao córtex pré-frontal, em especial quando o uso se dá na adolescência.
Precisamos fazer a informação circular, diz Maisa. "Esta circulação precisa ser feita em massa, como por exemplo, as campanhas em relação ao HIV. É preciso que se mostrem os malefícios de maneira clara para a população em geral".
Segundo a psicóloga, pais ou responsáveis devem encaminhar os adolescentes usuários para tratamento e se mostrar dispostos a conversar sobre o problema. "Também podem procurar algum profissional para auxiliá-los a conversar com seus filhos", afirma Maisa. "Os pais ou responsáveis precisam estar atentos aos jovens, saberem onde estão, com quem, o que pensam a respeito das coisas, precisam estar abertos para escutar e não somente criticar".
A psicóloga se diz contrária à legalização da maconha. "Não é legalizando que se evitarão novos dependentes de maconha ou mesmo se fará com que os jovens parem de consumi-la", acredita. "O álcool está aí para comprovar que, mesmo sendo uma substância lícita, segue gerando dependentes, com conseqüentes prejuízos sociais, afetivos e funcionais, quadro este semelhante ao vivenciado por dependentes de maconha".
Porém, o debate sobre a legalização das drogas está longe de terminar. O advogado Francisco Alexandre de Paiva Forte, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), defende a legalização. Em artigo publicado na revista Estudos Avançados, Forte diz que tratar tanto o consumo de drogas quanto o comércio como crime em nada contribui para reduzir o consumo ou para criar um mundo livre de drogas. Entre seus argumentos, o advogado menciona as perdas humanas - de policiais, traficantes e viciados - provocadas pelo combate ao tráfico e o caos penitenciário que se agrava com as prisões superlotadas.
Fonte: Revista Eletrônica de Jornalismo Científico, SBPC, 25 de Janeiro de 2008