Disciplina - Sociologia

Sociologia

26/02/2008

Em nova carta, Fidel abre "fogo ideológico" contra os EUA

Três dias após anunciar que não ser indicado pelo Parlamento cubano à reeleição, o presidente Fidel Castro divulgou um novo texto no qual afirma que não poderia esperar para abrir fogo ideológico contra os Estados Unidos.

Fidel, afastado de seus cargos há quase um ano e meio, afirma que também engrossa o coro por mudanças. Mas nos Estados Unidos. “Estou de acordo, mudança! Mas nos EUA. Cuba mudou há um tempo e seguirá seu rumo dialético”, comenta.

É o primeiro texto que vem com o novo título: “Reflexões do companheiro Fidel” em substituição a “Reflexões do Comandante-em-Chefe”. O expoente máximo da Revolução Cubana afirma que os candidatos à presidência dos Estados Unidos “se viram obrigados a proclamar suas imediatas exigências sobre Cuba para não arriscar um só eleitor”. “Meio século de bloqueio parecia pouco aos favoritos”, ironiza.

Fidel classifica de “submissas” as potências européias que repetiram o discurso estadunidense. “O colonialismo e o neocolonialismo de continentes inteiros de onde extraem energia, matérias-primas e mão-de-obra baratas os desqualificam moralmente”, comenta.

Veja abaixo a íntegra do texto divulgado no jornal Granma.

Reflexões do companheiro Fidel

Na última terça-feira não houve notícia internacional fresca. Minha modesta mensagem ao povo, no dia anterior, não teve dificuldade para ser divulgada com amplitude. Desde as 11 da manhã comecei a receber notícias concretas. Na noite anterior eu havia dormido como nunca. Tinha a consciência tranqüila e me havia prometido umas férias. Os dias de tensão, esperando o 24 de fevereiro me deixaram tenso.

Não direi hoje uma palavra das pessoas dedicadas em Cuba e no mundo que de mil formas diferentes expressaram suas emoções. Recebi igualmente um elevado número de opiniões recolhidas nas ruas por meio de métodos confiáveis, nas quais quase sem exceção, e de forma espontânea, manifestaram seus mais profundos sentimentos de solidariedade. Algum dia abordarei o tema.

Neste instante me dedico ao adversário. Pude observar a posição embaraçosa de todos os candidatos a presidente dos EUA. Eles se viram obrigados, um a um, a proclamar suas imediatas exigências sobre Cuba para não arriscar um só eleitor.

Meio século de bloqueio parecia pouco aos favoritos. "Mudança! Mudança! Mudança", gritavam em uníssono.

Estou de acordo, mudança! Mas nos EUA. Cuba mudou há um tempo e seguirá seu rumo dialético. "Não regressar jamais ao passado", exclama nosso povo.

"Anexação! Anexação! Anexação", responde o adversário; é o que no fundo pensam quando falam de mudanças.

Martí, rompendo a descrição de sua luta silenciosa, denunciou o império voraz e expansionista já descoberto e descrito por sua genial inteligência, mais de um século da declaração revolucionária da independência das 13 colônias.

Não é o mesmo o fim de uma etapa cujo fim foi um sistema insustentável.

De imediato as submissas potências européias aliadas a esse sistema proclamam as mesmas exigências. A seu juízo havia chegado a hora de dançar com a música da democracia e da liberdade que, desde os tempos de Torquemada, jamais realmente reconheceram. O colonialismo e o neocolonialismo de continentes inteiros de onde extraem energia, matérias-primas e mão-de-obra baratas os desqualificam moralmente.

Um ilustríssimo personagem espanhol, antigo ministro da Cultura e impecável socialista, hoje e desde há um tempo defensor das armas e da guerra, é a síntese da falta de razão. Kosovo e a declaração unilateral de independência os golpeia nesse instantes como impertinente pesadelo.

No Iraque e Afeganistão, seguem morrendo homens de carne e osso com uniformes dos EUA e da Otan. A lembrança da URSS, desintegrada em parte pela aventura intervencionista, persegue aos europeus como uma sombra.

Bush pai postula a McCain como seu candidato, enquanto Bush filho, na África – origem do homem ontem e continente mártir de hoje – onde ninguém sabe o que ele faz ali, disse que minha mensagem era o início do caminho da liberdade de Cuba, ou seja, a anexação decretada por seu governo em volumoso e enorme texto.

Um dia antes, pela TV internacional, se mostrava um grupo de bombardeiros de última geração realizando manobras espetaculares, com garantia total de que bombas de qualquer tipo podem sem lançadas sem que radares detectem as naves portadoras e nem se considere isso como um crime de guerra.

Um protesto de importante países se relacionava com a idéia imperial de provas uma arma, com o pretexto de evitar a possível queda sobre outro país de um satélite espião, um dos muitos artefatos que, com fins militares, os EUA lançaram na órbita do planeta.

Pensava deixar de escrever uma reflexão por ao menos dez dias, mas eu não tinha direito de guardar silêncio por tanto tempo. Temos que abrir fogo ideológico sobre eles.

Escrevi isso às 12h35 da terça-feira. Ontem fiz a revisão e hoje, quinta-feira à tarde, entregarei o texto. Roguei encarecidamente que minhas reflexões sejam publicadas na página 2 ou em qualquer outra de nossos jornais, nunca na primeira página, além de fazer sínteses dos textos nos demais veículos de comunicação se eles forem extensos.

Estou dedicado agora no esforço por fazer constar meu voto unido em favor da Presidência da Assembléia Nacional e do novo Conselho de Estado, e como fazê-lo.

Agradeço aos leitores por sua espera paciente.

Fidel Castro Ruz

21 de fevereiro de 2008

fonte:http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/especiais/cuba-fidel/em-nova-carta-fidel-abre-fogo-ideologico-contra-os-eua
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