Sociologia
04/03/2008
Colômbia, um novo Israel ?
Desde o fim da Guerra Fria, quando a indústria bélica americana perdeu mercados na Europa e na África, a “guerra” contra as drogas foi a alternativa ianque à vertiginosa queda de demanda armamentista. Foi uma maneira, também, de deslocar a crise do crescimento do consumo interno para as áreas de produção da coca, ainda que o resultado dessa estratégia seja, quase vinte anos depois, um desastre absoluto.
A Colômbia continua produzindo cocaína e os americanos cheirando-a mais do que nunca. Ainda assim, minada pelo poder dos cartéis de traficantes de cocaína e disposta a trocar recursos pela extradição de criminosos para os EUA, a Colômbia tornou-se uma espécie de base avançada americana em território sulamericano, com tropas treinadas e armas cedidas por agentes da CIA, dentro da chamada Operação Colômbia – da qual, desde sempre, o presidente Álvaro Uribe se auto-proclama prócer e ativista.
Não foi outra a fonte de coragem de Uribe, portanto, para entrar em território equatoriano, matar um porta-voz das Farc e, tranqüilo, regressar para os braços de Tio Sam.
O discurso de combate ao terrorismo, embora careça de elementos políticos razoavelmente dimensionados, tem cabimento pela ótica simplista do conflito entre as forças regulares do Estado e os grupos rebeldes metidos na selva amazônica, onde mantêm duas centenas de reféns e, ao que parece, fazem do tráfico de drogas a base essencial do financiamento da guerrilha.
Essa, no entanto, está longe de ser a preocupação de George W. Bush, como, aliás, nunca foi preocupação de presidente americano nenhum.
Mais do que a cocaína, é o crescimento da esquerda latino-americana o foco da preocupação e as razões do nervosismo do governo americano na região.
Chávez, na Venezuela, Lula, no Brasil, Evo Morales, na Bolívia, e, agora, Rafael Correa, no Equador, tornaram-se uma alternativa política naturalmente antagônica ao imperialismo americano. Pior: de forma democrática, apesar da insistência da mídia republicana (no sentido ianque da expressão) em chamar Hugo Chávez, presidente eleito por voto direto, de ditador.
Aos americanos, restaram Uribe, o exército colombiano infiltrado de agentes da CIA e os grupos paramilitares financiados por ela, repeteco lacônico da estratégia dos Contras, a guerrilha armada nos anos 1980 contra os sandinistas da Nicarágua – aliás, novamente governada pelo esquerdista Daniel Ortega.
Entrar no Equador para matar Reyes nada tem a ver com o combate às Farc, mas com a nova estratégia americana de evitar que Hugo Chávez e, agora, Rafael Correa, se tornem referências políticas latino-americanos permanentes e protagonistas definitivos da libertação de reféns mantidos pelos guerrilheiros colombianos.
No início do ano, Uribe teve que engolir um “desagravo” a Chávez feito pelas Farc por causa da libertação de reféns, em território colombiano, mas para autoridades venezuelanas.
Sabe-se, agora, que o presidente do Equador mantinha uma negociação secreta para garantir a libertação de 11 outros reféns, entre eles a ex-candidata à Presidência da Colômbia Ingrid Betancourt. A contrapartida colombiana a essa perspectiva foi a assimilação da Doutrina Bush Júnior em estado puro.
Ao invés de se desculpar pela invasão de território – por si só, um ato de guerra –, Uribe acusou Correa de colaborar com os “terroristas” e Chávez de ter passado 300 milhões de dólares às Farc, sem falar da insinuação de que os guerrilheiros estão interessados em comprar urânio para fabricar bombas atômicas caseiras.
Qualquer semelhança com as acusações feitas ao Iraque, antes da invasão de 2003,não tem nada de mera coincidência.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/app/coluna.jsp?a=2&a2=5&i=308
A Colômbia continua produzindo cocaína e os americanos cheirando-a mais do que nunca. Ainda assim, minada pelo poder dos cartéis de traficantes de cocaína e disposta a trocar recursos pela extradição de criminosos para os EUA, a Colômbia tornou-se uma espécie de base avançada americana em território sulamericano, com tropas treinadas e armas cedidas por agentes da CIA, dentro da chamada Operação Colômbia – da qual, desde sempre, o presidente Álvaro Uribe se auto-proclama prócer e ativista.
Não foi outra a fonte de coragem de Uribe, portanto, para entrar em território equatoriano, matar um porta-voz das Farc e, tranqüilo, regressar para os braços de Tio Sam.
O discurso de combate ao terrorismo, embora careça de elementos políticos razoavelmente dimensionados, tem cabimento pela ótica simplista do conflito entre as forças regulares do Estado e os grupos rebeldes metidos na selva amazônica, onde mantêm duas centenas de reféns e, ao que parece, fazem do tráfico de drogas a base essencial do financiamento da guerrilha.
Essa, no entanto, está longe de ser a preocupação de George W. Bush, como, aliás, nunca foi preocupação de presidente americano nenhum.
Mais do que a cocaína, é o crescimento da esquerda latino-americana o foco da preocupação e as razões do nervosismo do governo americano na região.
Chávez, na Venezuela, Lula, no Brasil, Evo Morales, na Bolívia, e, agora, Rafael Correa, no Equador, tornaram-se uma alternativa política naturalmente antagônica ao imperialismo americano. Pior: de forma democrática, apesar da insistência da mídia republicana (no sentido ianque da expressão) em chamar Hugo Chávez, presidente eleito por voto direto, de ditador.
Aos americanos, restaram Uribe, o exército colombiano infiltrado de agentes da CIA e os grupos paramilitares financiados por ela, repeteco lacônico da estratégia dos Contras, a guerrilha armada nos anos 1980 contra os sandinistas da Nicarágua – aliás, novamente governada pelo esquerdista Daniel Ortega.
Entrar no Equador para matar Reyes nada tem a ver com o combate às Farc, mas com a nova estratégia americana de evitar que Hugo Chávez e, agora, Rafael Correa, se tornem referências políticas latino-americanos permanentes e protagonistas definitivos da libertação de reféns mantidos pelos guerrilheiros colombianos.
No início do ano, Uribe teve que engolir um “desagravo” a Chávez feito pelas Farc por causa da libertação de reféns, em território colombiano, mas para autoridades venezuelanas.
Sabe-se, agora, que o presidente do Equador mantinha uma negociação secreta para garantir a libertação de 11 outros reféns, entre eles a ex-candidata à Presidência da Colômbia Ingrid Betancourt. A contrapartida colombiana a essa perspectiva foi a assimilação da Doutrina Bush Júnior em estado puro.
Ao invés de se desculpar pela invasão de território – por si só, um ato de guerra –, Uribe acusou Correa de colaborar com os “terroristas” e Chávez de ter passado 300 milhões de dólares às Farc, sem falar da insinuação de que os guerrilheiros estão interessados em comprar urânio para fabricar bombas atômicas caseiras.
Qualquer semelhança com as acusações feitas ao Iraque, antes da invasão de 2003,não tem nada de mera coincidência.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/app/coluna.jsp?a=2&a2=5&i=308