Sociologia
03/04/2008
Imigrar para os EUA deixou de ser um grande sonho diante da crise daquele país.
Por Marco Damiani e Gustavo Gantois
O sonho está acabando. Na aventura de fazer a América, imigrar e enriquecer, cada vez mais brasileiros descobrem que o passado glorioso se tornou um presente de dificuldades. Hoje, o contigente de 1,1 milhão de homens e mulheres que saiu do Brasil para viver nos Estados Unidos, dentro ou fora da lei, faz menos dinheiro que antes e enfrenta mais perseguições. Quem se arrisca agora na aventura do estrangeiro já procura novos portos para atracar seus planos. O Banco Central informa que, em 2004, os brasileiros remeteram US$ 1,5 bilhão dos Estados Unidos ao Brasil. A cinco anos, porém, esse volume foi de US$ 2,5 bilhões, ou mais de 40% do que atualmente. Neste momento, há 82 brasileiros que entraram como turistas e estão presos nos Estados Unidos. Eles ocuparam postos humildes de trabalho, mas foram flagrados pelas autoridades. Serão deportados, em datas a serem marcadas. No México, que nos últimos tempos passou a ser a porta de entrada preferida – e mais arriscada – dos que tentam passar a fronteira em busca de oportunidades, 23 brasileiros, atrás das grades, esperam sua vez de serem expulsos. Mais grave é a situação de outros seis, que respondem processo por tráfico de imigrantes. É assim que, naquela região, são chamados os que guiam a gente disposta a furar cercas de arame farpado, cortar rios e cruzar um deserto na busca da realização que virou pesadelo.
Aqui, a cidade de Governador Valadares tornou-se emblemática da fase áurea da imigração brasileira para os Estados Unidos. Com pelo menos 50 mil pessoas originárias de sua comunidade vivendo em cidades como Boston e Chicago, nas contas do atual secretário da Fazenda, Elton Barbosa, eles chegaram a remeter até US$ 20 milhões mensais para seus familiares que ficaram no País. Esse fluxo de dinheiro, que jorrava através de uma rede informal de doleiros, hoje não atinge US$ 5 milhões. “Entrar lá para trabalhar ficou mais difícil”, lembra o secretário. “E deste lado houve um desmanche da rede de doleiros, o que obriga todas as operações serem legalizadas. O pessoal ficou com medo”. O resultado é que a economia da região sofreu um baque, com a paralisação de negócios imobiliários e a queda de arrecadação de ICMS, em janeiro, de 23% em relação ao ano passado.
O presidente George Bush, na busca pela reeleição, prometeu atenuar a pesada legislação que regula o trabalho estrangeiro no país. Na prática, no entanto, o que se viu até agora foi o aperto do cerco à imigração ilegal. Em todo o Brasil, esse arrocho se traduz por uma dificuldade crescente na obtenção de vistos de entrada no país. Estimava-se em 3 milhões os passapor-
tes brasileiros possuidores do documento há cinco anos. Hoje, os vistos válidos em circulação são, quando muito, 1 milhão. “Com a desvalorização do dólar e o acúmulo de dificuldades depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, há um tendência que faz os brasileiros procurarem mais a Europa do que os Estados Unidos para trabalhar”, diz o secretário Marco Campos, da assessoria do Itamaraty em Brasília. A chancelaria calcula que existem neste momento 400 mil brasileiros trabalhando legalmente na Europa, e outros 400 mil de maneira irregular. Nos EUA a relação entre legais e ilegais é mais desigual. Para cada um em condição legal, dois estão fora das leis que regulam o mercado de trabalho. Há duas situações básicas de trabalho legal no país: por convite de uma companhia americana ou para quem, com dinheiro próprio, montar um negócio e empregar americanos.
O arquiteto brasileiro Estevam Soares viveu a fase em que era um grande negócio se sacrificar em empregos menores nos Estados Unidos para desfrutar, na volta, de uma poupança em dólares. Entrou como turista e, em Nova York, tornou-se lavador de pratos, garçom e barman. Juntou em dois anos cerca de US$ 25 mil, remetidos ao Brasil. Aqui, no entanto, seus parentes aplicaram mal a pequena fortuna. “Perdi tudo e resolvi tentar de novo”, conta Soares. “No ano passado tentei entrar pelo México, mas fui preso e deportado”. Ele insiste em viver lá fora, onde acha que vai reencontrar a fortuna. Amigos indicaram chances de trabalho na Holanda. “Irei até julho. Ganhar em euros vai ser melhor”. Outro chamariz é que nenhum país europeu exije vistos de entrada de brasileiros. Fato: o número de brasileiros deportados no Velho Continente só cresce.
A professora Sueli Siqueira, da Universidade Vale do Rio Doce(leia aqui artigo da autora), desenvolveu pesquisas sobre a imigração brasileira para os EUA. Ela entrevistou imigrantes da região de Valadares e concluiu que, em média, cada um deles deixou para trás um emprego que rendia, no máximo, três salários mínimos mensais. Ao conseguir trabalhar no setor de serviços de lá, eles conseguiram entre US$ 500 e US$ 1 mil por semana. A novelista Glória Perez, da Rede Globo, tem o estudo em mãos. Por e-mail à autora, pediu mais informações. Tudo para compor, na nova novela em horário nobre, um retrato fiel dos brasileiros que tentam, tantas vezes sem sucesso, vencer na América. Vai ser de chorar.
Fonte: Itamaraty
* Governo brasileiro não consegue distinguir entre legais e ilegais
• Hoje há 82 brasileiros detidos nos EUA por problemas com a imigração
• Em 2004 brasileiros residentes nos Estados Unidos remeteram US$ 1,5 bilhão, mas cinco anos atrás esse volume chegou a US$ 2,5 bilhões
• Varia de US$ 3 mil a US$ 7 mil o preço de um passaporte falso
• Custa de US$ 7 mil a US$ 14 mil cruzar a fronteira do México para
os EUA com ajuda ilegal
• Imigrante chega a ganhar entre US$ 500 a US$ 1 mil por semana e
poupa US$ 1 mil/mês para mandar ao Brasil
Fonte: Banco Central
estatística que traz número de brasileiros legais e ilegais nos EUA
Fonte:http://www.terra.com.br/istoedinheiro/390/economia/america.htm
O sonho está acabando. Na aventura de fazer a América, imigrar e enriquecer, cada vez mais brasileiros descobrem que o passado glorioso se tornou um presente de dificuldades. Hoje, o contigente de 1,1 milhão de homens e mulheres que saiu do Brasil para viver nos Estados Unidos, dentro ou fora da lei, faz menos dinheiro que antes e enfrenta mais perseguições. Quem se arrisca agora na aventura do estrangeiro já procura novos portos para atracar seus planos. O Banco Central informa que, em 2004, os brasileiros remeteram US$ 1,5 bilhão dos Estados Unidos ao Brasil. A cinco anos, porém, esse volume foi de US$ 2,5 bilhões, ou mais de 40% do que atualmente. Neste momento, há 82 brasileiros que entraram como turistas e estão presos nos Estados Unidos. Eles ocuparam postos humildes de trabalho, mas foram flagrados pelas autoridades. Serão deportados, em datas a serem marcadas. No México, que nos últimos tempos passou a ser a porta de entrada preferida – e mais arriscada – dos que tentam passar a fronteira em busca de oportunidades, 23 brasileiros, atrás das grades, esperam sua vez de serem expulsos. Mais grave é a situação de outros seis, que respondem processo por tráfico de imigrantes. É assim que, naquela região, são chamados os que guiam a gente disposta a furar cercas de arame farpado, cortar rios e cruzar um deserto na busca da realização que virou pesadelo.
Aqui, a cidade de Governador Valadares tornou-se emblemática da fase áurea da imigração brasileira para os Estados Unidos. Com pelo menos 50 mil pessoas originárias de sua comunidade vivendo em cidades como Boston e Chicago, nas contas do atual secretário da Fazenda, Elton Barbosa, eles chegaram a remeter até US$ 20 milhões mensais para seus familiares que ficaram no País. Esse fluxo de dinheiro, que jorrava através de uma rede informal de doleiros, hoje não atinge US$ 5 milhões. “Entrar lá para trabalhar ficou mais difícil”, lembra o secretário. “E deste lado houve um desmanche da rede de doleiros, o que obriga todas as operações serem legalizadas. O pessoal ficou com medo”. O resultado é que a economia da região sofreu um baque, com a paralisação de negócios imobiliários e a queda de arrecadação de ICMS, em janeiro, de 23% em relação ao ano passado.
O presidente George Bush, na busca pela reeleição, prometeu atenuar a pesada legislação que regula o trabalho estrangeiro no país. Na prática, no entanto, o que se viu até agora foi o aperto do cerco à imigração ilegal. Em todo o Brasil, esse arrocho se traduz por uma dificuldade crescente na obtenção de vistos de entrada no país. Estimava-se em 3 milhões os passapor-
tes brasileiros possuidores do documento há cinco anos. Hoje, os vistos válidos em circulação são, quando muito, 1 milhão. “Com a desvalorização do dólar e o acúmulo de dificuldades depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, há um tendência que faz os brasileiros procurarem mais a Europa do que os Estados Unidos para trabalhar”, diz o secretário Marco Campos, da assessoria do Itamaraty em Brasília. A chancelaria calcula que existem neste momento 400 mil brasileiros trabalhando legalmente na Europa, e outros 400 mil de maneira irregular. Nos EUA a relação entre legais e ilegais é mais desigual. Para cada um em condição legal, dois estão fora das leis que regulam o mercado de trabalho. Há duas situações básicas de trabalho legal no país: por convite de uma companhia americana ou para quem, com dinheiro próprio, montar um negócio e empregar americanos.
O arquiteto brasileiro Estevam Soares viveu a fase em que era um grande negócio se sacrificar em empregos menores nos Estados Unidos para desfrutar, na volta, de uma poupança em dólares. Entrou como turista e, em Nova York, tornou-se lavador de pratos, garçom e barman. Juntou em dois anos cerca de US$ 25 mil, remetidos ao Brasil. Aqui, no entanto, seus parentes aplicaram mal a pequena fortuna. “Perdi tudo e resolvi tentar de novo”, conta Soares. “No ano passado tentei entrar pelo México, mas fui preso e deportado”. Ele insiste em viver lá fora, onde acha que vai reencontrar a fortuna. Amigos indicaram chances de trabalho na Holanda. “Irei até julho. Ganhar em euros vai ser melhor”. Outro chamariz é que nenhum país europeu exije vistos de entrada de brasileiros. Fato: o número de brasileiros deportados no Velho Continente só cresce.
A professora Sueli Siqueira, da Universidade Vale do Rio Doce(leia aqui artigo da autora), desenvolveu pesquisas sobre a imigração brasileira para os EUA. Ela entrevistou imigrantes da região de Valadares e concluiu que, em média, cada um deles deixou para trás um emprego que rendia, no máximo, três salários mínimos mensais. Ao conseguir trabalhar no setor de serviços de lá, eles conseguiram entre US$ 500 e US$ 1 mil por semana. A novelista Glória Perez, da Rede Globo, tem o estudo em mãos. Por e-mail à autora, pediu mais informações. Tudo para compor, na nova novela em horário nobre, um retrato fiel dos brasileiros que tentam, tantas vezes sem sucesso, vencer na América. Vai ser de chorar.
Fonte: Itamaraty
* Governo brasileiro não consegue distinguir entre legais e ilegais
• Hoje há 82 brasileiros detidos nos EUA por problemas com a imigração
• Em 2004 brasileiros residentes nos Estados Unidos remeteram US$ 1,5 bilhão, mas cinco anos atrás esse volume chegou a US$ 2,5 bilhões
• Varia de US$ 3 mil a US$ 7 mil o preço de um passaporte falso
• Custa de US$ 7 mil a US$ 14 mil cruzar a fronteira do México para
os EUA com ajuda ilegal
• Imigrante chega a ganhar entre US$ 500 a US$ 1 mil por semana e
poupa US$ 1 mil/mês para mandar ao Brasil
Fonte: Banco Central
estatística que traz número de brasileiros legais e ilegais nos EUA
Fonte:http://www.terra.com.br/istoedinheiro/390/economia/america.htm